06/12/2011

Dia Nacional de Mobilização dos Homens pelo Fim da Violência contra as Mulheres



Estamos no 12º dia da Campanha 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres e, para lembrar um massacre de mulheres (*feminicídio*) ocorrido no Canadá em 1989, foi criado o Dia Nacional de Mobilização dos Homens pelo Fim da Violência contra as Mulheres. Como há muitos homens que são contra qualquer violência contra as mulheres (*a maioria é, aliás*), foi fundado o movimento Laço Branco. Se quiser mais informações, o site deles é este aqui. De qualquer forma, para marcar a data, estou postando o texto da ministra Iriny Lopes, da Secretaria de Política para as Mulheres, publicado na Folha de São Paulo hoje. Boa leitura.

IRINY LOPES

Homens e mulheres num caminho de paz

Masculino ou feminino não é só uma definição de gênero. É uma espécie de alegoria do poder em países como o Brasil, onde a ligação entre violência e gênero, historicamente, estabelece quem são os autores e quem são as vítimas, para firmar o que se poderia chamar de identidade dominante.

Como se a natureza, após séculos e séculos, ainda fosse representada pelo mito da dominação masculina, o que pressupõe força bruta para subjugar a outra espécie: feminina. Neste Dia Nacional de Mobilização dos Homens pelo Fim da Violência contra as Mulheres, nos interessa abrir um caminho de paz entre todos os gêneros, com base na consciência de justiça e igualdade.

Porque foi no dia 6 de dezembro, em 1989, que um jovem, Marc Lepine, de 25 anos, invadiu uma escola de Montreal, retirou os homens do local e, em seguida, atirou e matou 14 mulheres e depois se matou.

Numa carta, ele justificava seu ato dizendo que não suportava a ideia de ver mulheres estudando engenharia, curso tradicionalmente voltado para os homens.

Massacre é o que não queremos ver mais. Nenhum tipo de violência, seja física ou emocional, face mais cruel dessa desigualdade na sociedade. Por isso, marcamos este dia 6 com uma mensagem: as mulheres brasileiras têm, sim, quem as proteja. São muitas as ações e as alianças firmadas no sentido de que sua integridade seja respeitada.

Nesta terça-feira, em parceria com o Supremo Tribunal Federal e com o Conselho Nacional de Justiça, estamos lançando a campanha Compromisso e Atitude no Enfrentamento à Impunidade e à Violência contra a Mulher, justamente para fechar o cerco contra agressores e criminosos.

Cada instituição formulará ações para enfrentar a violência contra as mulheres no âmbito de suas competências, visando dar prioridade a casos de homicídios de cidadãs.

Infelizmente, o cenário é assustador, e os números falam por si só: a cada duas horas, uma mulher é assassinada no país. A cada dois minutos, cinco mulheres são violentamente agredidas.

Graças à Lei Maria da Penha, o Estado reconhece que a violência doméstica deve ser erradicada. Graças à Central de Atendimento à Mulher - Ligue 80, salvamos muitas vidas. O serviço realizou, de 2006 até outubro deste ano, mais de 2 milhões de ligações -são 58.512 relatos de violência de janeiro até outubro de 2011.

Nós avançamos muito em termos de políticas públicas, mas os desafios ainda são grandes até conseguir a pacificação do Brasil. Por enquanto, é campo de guerra, campo minado de instintos selvagens.

A Secretaria de Políticas para as Mulheres e órgãos parceiros têm incentivado o diálogo de paz entre homens e mulheres, participando de campanhas como Homens Unidos pelo Fim da Violência contra as Mulheres, liderada pela ONU.

Em junho deste ano, entregamos ao secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, um abaixo-assinado com 56 mil assinaturas de homens brasileiros se comprometendo publicamente a contribuir para o fim da violência contra as mulheres.

Vamos acabar com isso, é preciso, em nome de uma sociedade democrática, de fato e de direito. Até porque há avanços significativos.

Avançamos na repactuação das políticas para as mulheres, com Estados e municípios, para aumentar a escala dessas ações de enfrentamento à violência, em todas as áreas e instâncias de governo.

Não vamos fazer o papel dos municípios nem dos Estados, mas precisamos construir as interfaces e estabelecer a transversalidade das políticas públicas para que elas transformem positivamente a vida das mulheres. É como se fôssemos alinhavando um grande mutirão em prol das mulheres do Brasil. O caminho é longo, e a chegada, um sonho de todas.

IRINY LOPES é ministra da Secretaria de Política para as Mulheres.

16/04/2011

Minhas Últimas Palavras (ESPERO) sobre o Massacre de Realengo



Queria ter escrito este texto na quinta-feira, e espero que essas sejam as minhas últimas palavras aqui sobre o “Massacre de Realengo” (12). Muitos meios de comunicação, como a Revista Isto é, já sinalizaram que o sujeito foi até a escola para matar meninas (“Apesar de ter escolhido como alvos preferenciais as meninas, o assassino Welington acertou um tiro na cabeça de Rafael Pereira da Silva (...)”), mas a coragem para dizer isso com todas as palavras, dando o nome aos bois – FEMINICÍDIO – só vi nos textos feministas (1-2), e na boca de um dos jornalistas mais extrema-direita desse país. Agora que (Graças ao bom Deus!) os meninos feridos, porque as meninas ele executou mesmo, estão se recuperando (*até os dois que estavam em estado muito grave*), a média deve continuar aquela mesmo: 10 meninas e 2 meninos mortos. Só que a gente continua escondendo falando “12 alunos mortos”, “12 crianças mortas”. Eu fico muito constrangida em ter que concordar (parcialmente) com um facistóide, mas se o resto da mídia, seja a grande imprensa ou os blogs, se recusam a dizer, a aceitar que um sujeito pode, sim, odiar tanto as mulheres e se sentir tão frustrado consigo mesmo a ponto de fazer o que esse cara fez... Paciência! Eu vou continuar clamando no deserto sempre que necessário. Eu não tenho nenhum problema com isso.

Enfim, mas o que me fez postar sobre Realengo de novo foi a exposição que a mídia – a grande imprensa escrita e televisiva – vem fazendo e fotos desse celerado posando com armas, posando com a carta de suicídio, além, claro, dos vídeos. Confesso que quando vi um desses vídeos no Jornal da Globo, quando ouvi a voz áspera, monótona, a fala desconexa do sujeito (*me recuso a escrever no nome dele*), meu estômago revirou. Eu acredito que existam indivíduos que busquem a fama póstuma. Estão dando isso para esse elemento. Agora, ele é famoso! E será ainda mais se continuarmos nesta toada. Logo, várias comunidades e pessoas vão começar a expressar abertamente na internet a paixão por esse monstro que, mesmo que tenha sido vítima de bullying, retornou a sua antiga escola e projetou seu ódio, sua frustração, seu mix de fanatismo religioso, nas meninas e meninos que lá estudavam. Corremos sério risco de termos copy cats, isto é, gente que vai imitar ou tentar imitar esse cara. E, enquanto escrevo, a Record está colocando os vídeos no ar DE NOVO! E a culpa é do Estado que está cedendo essas imagens e vídeos desse sujeito que passa mensagens para aqueles que sofrem bullying os estimulando a... MATAR MENINAS E MENINOS QUE NÃO FORAM OS RESPONSÁVEIS PELA VIOLÊNCIA QUE SOFRERAM!

Esse tipo de cara não deveria ter o direito de fala, não deveria ter o direito de entrar nas nossas casas, porque a TV X ou Y quer audiência. Eu me considero agredida e imagino os pais, mães, irmãos e irmãs, parentes, amigos, dessas crianças, das vítimas fatais e sobreviventes. Já chega! E não estou falando que devemos deixar de discutir o caso. É necessário, muito necessário falar de Realengo, discutir o nosso sistema educacional, falar que foi feminicídio, denunciar como o discurso religioso pode ter terríveis influências sobre mentes já perturbadas... são muitas coisas a discutir neste caso. Aliás, recomendo muito o último texto do Contardo Calligaris sobre o caso. Muito mesmo! Agora, mostrar o rosto do monstro? Sua voz? NÃO! Disso a gente não precisa, ou, pelo menos, eu não preciso!

07/04/2011

'Ele atirava nas meninas para matar', diz aluno que sobreviveu a ataque



Eu não queria estar certa, mas nosso primeiro massacre em escolas (*e que seja o último*) foi, também, um feminicídio (crime de ódio contra mulheres). Será que eu fui a única a juntar dois pontos? Vi o Datena e ele cortou o repórter dizendo que não dava para saber, porque não sabíamos quantos alunos e alunas havia em sala. É o medo de admitir que uma proporção de quase 10 menina para 1 menino em uma escola comum não pode ser NORMAL? Será que a carta enlouquecida do assassino não era sintomático de alguma coisa? Mas os meninos, maioria dos sobreviventes, estão confirmando: "Ele atirava nas meninas para matar", disse um;"Relaxa, godrinho, eu não vou te matar", disse outro; e, por fim, "Ele colocava a arma na testa das garotas e puxava o gatilho, sem pena" e "Ele simplesmente entrou na sala, puxou a arma e começou a selecionar as pessoas que iriam morrer". Eis que o ódio do sujeito pelas mulheres transbordou nisso aí, no assassinato brutal de meninas. Então, quando lembrarem deste crime, lembrem, também, que há crimes que são específicos, feminicídio, assim como homofobia, existem. Crimes assim acontecem todos os dias e, sim, homens heterossexuais são seus agentes na maioria dos casos. É triste, mas a cultura da violência favorece esse tipo de coisa, e a cultura da violência é machista. Por favor, diga ao babaca que saiu papagaiando que meninas morreram em maior número "porque não correm direito" ou "porque ficam paralisadas de medo", que essa pessoa está papagaiando idéias machistas, também.

Minhas Considerações sobre as Meninas Massacradas em Realengo



Estou abrindo esse post por pura especulação e indignação. Primeiro, o crime da escola em Realengo, as 11 alunas mortas, sim, no feminino, porque foram 10 meninas e 1 menino, me deixaram profundamente triste e amargurada. Agora, sim, estamos no primeiro mundo! Temos nosso Columbine... ou algo do gênero. Em segundo lugar, as proporções de 10 meninas para apenas 1 menino entre os mortos e de 13 meninas feridas para somente 3 meninos feridos, me deixaram de cabelo em pé. A carta do assassino, carregada de surtos religiosos (*cristãos, não islâmicos, como muita gente começou a inventar*) e sexuais sobre castidade e pureza, me deixou muito, muito desconfiada. Para mim, e estou fazendo essa afirmação sem nenhuma informação posterior, trata-se de um crime de ódio. Ofereço, para quem duvida, dois outros crimes semelhantes em números: o da Universidade em Montreal, no Canadá e o da Escola Amish, nos EUA.

Em 1989, Montreal, um sujeito invadiu a École Polytechnique, entrou em uma sala, rendeu todos, separou homens de mulheres e disse que estava lutando contra o feminismo. Atirou em nove moças, matou seis. Deixou uma carta de suicídio com uma lista de “feministas” que queria matar. O caso da escola Amish é mais recente. Em 2006, um sujeito invadiu uma escola Amish (*Lembram do filme A Testemunha?*), tomou uma classe como refém, liberou os meninos, ficou com as dez menininhas. Matou cinco, e não terminou o serviço, porque ao perceber a aproximação da polícia, ele se matou.

Agora, alguém me diga qual escola do Rio de Janeiro ou de qualquer lugar do Brasil que não seja curso normal, enfermagem (*e aqui pode nem ser*) ou algo semelhante que tenha uma proporção próxima de 10 meninas para cada 1 menino em sala. Eu lecionei em curso normal e a proporção chegava perto disso. Esse não era o caso da escola do Realengo. Contudo vem alguém e me diz que temos estes números, porque as meninas sentam na frente. E, sim, ninguém se mexeu. Eu dou aula para adolescentes, posso até ter mais meninas na frente, mas a proporção é quase meio a meio.

Desculpem, mas meu desconfiômetro está ligado aqui. Não acho que existam culpados. Não é algo que se espere que aconteça em uma escola brasileira, ninguém pode comprar armas de forma indiscriminada neste país salvo se estiver envolvido com o crime, e torço para que não tenhamos ninguém imitando o criminoso em outras escolas por aí. Eu realmente acredito que ocorreu um crime de ódio e o uso do masculino, o suposto universal, que esconde o número de vítimas mulheres, meninas, na verdade, é ofensivo. Torço, também, para que nenhuma das feridas morra e estou incluindo os três meninos.

Quanto ao assassino, era alguém que sofria de transtorno mental. Deveria estar internado, mas o Estado abriu mão de tratar de forma adequada os doentes mentais, para cortar custos. Claro, que tudo é disfarçado em belas teorias que dizem que é melhor o paciente estar com os seus familiares... Sei! Nem sempre isso é possível e/ou aconselhável. Eu defendo o tratamento humanizado, que hospitais psiquiátricos não pdoem ser prisões, no entanto, é preciso dar todo o apoio especializado aos parentes e ao paciente. Isso, o Estado não tem feito. Eis a minah crítica. Outra coisa, vi gente especulando que o policial executou o sujeito. Armado do jeito que ele estava (*vi a foto dele morto no jornal O Dia, com os carregadores em volta do corpo. Se abrir, está avisad@!*), se o policial o matou, fez o que deveria ter feito naquelas condições. Não lamento isto, eu lamento, sim, pelas crianças. E que me chamem de fascista se quiserem, pois assumo integralmente o que digo. Cabe agora investigar como o sujeito conseguiu as armas, tanta munição e os carregadores rápidos (speed loaders). Qual o significado do seu traje imitando a indumentária militar? E o conhecimento e o treinamento que, apesar de ser mentalmente doente, ele certamente possuía? Isso, sim, é importante!
O relato de uma das meninas sobreviventes (*1-2*) só reforça que o criminoso tinha um modus operandi. a cosia foi planejada e ele escolheu matar meninas. Meninas mesmo, já que ele entrou e a primeira pessoa que encontrou foi uma professora.

29/01/2011

"Eu amo minha mãe, mas eu não quero ser igual a ela"



Passando pelo Japan Probe, vi uma notinha sobre um documentário japonês dirigido por Kyoko Gasha, a partir da sua própria experiência e de outras mulheres japonesas que decidiram abandon ar o Japão e ir para Nova York tentar uma carreira. Se entendi bem, o documentário “Mothers’ Way, Daughters’ Choice” (Algo que poderia ser, “O Caminho/Jeito da Mãe, A Escolha da Filha”) questiona os conflitos entre a educação tradicional (*acredito que a press!ao para se conformarem a um modelo*), as barreiras profissionais que as mulheres enfrentam no Japão e como algumas delas decidiram tornar suas vidas únicas. Não porcurei (*a conexão aqui é péssima*), mas talvez esteja completo no Youtube. A apresentação na página oficial do documentário é a seguinte:
Por que mulheres bem sucedidas da segunda potência econômica do mundo escolheriam começar as suas vidas em Nova York? O documentário “Mothers’ Way, Daughters’ Choice” explora como várias mulheres japonesas lutam para reconciliar sua educação tradicional e seu desejo de construir vidas singulares. Para entender essas utas, a diretora, Kyoko Gasha, mostra o quão profundas, poderosas são as influências da cultura japonesa em sua própria vida. Kyoko também desvela histórias de outras mulheres japonesas em Nova York, enrelaçando contos paralelos de culpa, negação, sacrifício e alegir. Esta história é sobre o choque cultural em um nível pessoal.