08/03/2012

Mais um 8 de Março... Comemorar? Acho que, não!



Hoje é o Dia Internacional das Mulheres, assim mesmo, no plural, porque mulheres não são todas iguais, assim como os homens. Considero o 8 de março um dia de lutas, um dia para lembrar que há muito a se fazer ainda pelo progresso das mulheres no mundo, por uma igualdade de direitos e oportunidades para ambos os sexos. Não é dia de ganhar rosa (*e eu ganhei a minha no portão do trabalho*), ou de receber parabéns. Aliás, o deboche transparece quando vejo colegas homens dizendo uns aos outros “hoje é seu dia”, e o cidadão desmunheca, ri, fala fino... Sim, desprezo pelo feminino e homofobia, mas, claro, que é tudo para fazer humor, não é? Quem precisa de dia é porque não tem dia nenhum. Dia das mulheres, Consciência Negra, do Índio, das Crianças, dos Professores (*que ganham tão mal na maioria dos Estados da Federação*), ... Sim, vamos lembrar dessa turma pelo menos uma vez por ano. E tome matérias cretinas na imprensa.

Ontem, a melhor de todas foi que as mulheres brasileiras são as mais felizes do mundo, afinal, os brasileiros são o povo mais feliz do mundo. Feliz com a corrupção, com o descaso dos políticos, com o confisco de direitos, com a erosão do Estado Laico, etc. Ontem, também, por exemplo, em Anápolis, coração no Bible Belt Católico brasileiro, pertinho da capital da República, a lei orgânica do município excluiu o direito de aborto legal previsto em constituição. Ah, diz um amigo meu “o Supremo e a OAB vão resolver”. Sim, seu sei, mas, enquanto isso, mulheres serão privadas dos seus direitos de cidadania, pois seus corpos são propriedade dos legisladores (homens). E qualquer um sabe que a interrupção de uma gravidez por estupro ou de risco não é algo que se espere. Percebem a perversidade e na véspera do “Dia da Mulher”, assim, no singular, porque essa intervenção nos iguala a todas, somos todas subcidadãs e valemos muito, muito pouco mesmo.

De boa notícia ontem, tivemos a de redução das desigualdades sociais no Brasil. Sim, tenho mil críticas aos governos do PT, mas é preciso reconhecer esse avanço. Como as mulheres estão entre os mais pobres, são as que recebem menores salários, especialmente, quando negras, isso é algo a se comemorar. Pena que a diminuição da desigualdade econômica nem sempre represente maior conscientização. Quer um exemplo, olhe a tirinha abaixo:


Eu adoro o trabalho da autora das tirinhas “Mulher de 30”, mas percebem o quanto ela parece entender pouco do que é a luta pela igualdade, ou, talvez, essa tirinha tenha sido muito infeliz. Primeiro, ela iguala atividades esporádicas – encher o tanque, trocar o óleo – com as cotidianas das quais dependem o bem estar de todos em uma casa. Quer dizer que porque um homem leva o carro ao posto de gasolina – e parece que só eles têm carro e fazem isso, não é? – digamos uma vez por semana (*para trocar o óleo, talvez uma vez a cada muitas semanas*), ele está isento de compartilhar as tarefas domésticas? Percebem a falácia? E quem acompanha as tirinhas sabe que ambas as personagens trabalham fora. Sem a crítica, essa tirinha é só mais um reforço da idéia que tanto agrada aos machistas de que mulheres querem somente os direitos, e, claro, não a partilha real das atividades, dos gastos, das responsabilidades. Mas quem fez a tirinha foi uma mulher! Deve ser verdade então!

Também ontem, uma das mais importantes jogadoras de vôlei do Brasil, uma guerreira em vários aspectos, teve suas fotos sensuais enfocadas em uma matéria. Até aí, nada, mas sempre parece o esforço de provar que atletas são “mulheres de verdade”, porque são sexies e tem um corpo para mostrar. Nada de muito novo se ela não tivesse dito “Mulher é bicho ruim. Eu queria ter nascido homem”. Triste, não é? Especialmente quando ela é um símbolo de força e superação. Para piorar, ela, a mãe e a irmã foram abandonadas pelo marido e pai. E tiveram que enfrentar muitos apertos por causa disso. E “mulher é que é bicho ruim”? Difícil de entender...

É isso. Só considerarei desnecessário que exista um “Dia das Mulheres” quando sites como o Machismo Mata não existirem mais. Quando documentários como o que ganhou o Oscar e que fala sobre mulheres que tiveram seus rostos destruídos por ácido por companheiros e homens que não quiseram ou puderam amar, sejam coisa do passado. Quando homens pararem de legislar sobre nossos corpos como se fossem nossos donos e os donos da verdade, da razão, do mundo. Por enquanto, 8 de março é necessário, ainda que tanta gente, mulheres inclusive, não entendam seu significado. OK. Não disse o motivo da criação da data, certo? Sem problema, o post de 2009 foi muito mais inspirado que este. Dê uma olhadinha lá, pois eu acredito que valha a pena.

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