24/11/2009

16 dias de ativismo pelo fim da violência contra as mulheres



Trata-se de uma campanha anual, porque a violência contra as mulheres é algo tão corrente (*exemplo: Evangélico espanca filha adulta (e esposa) porque ela fazia chapinha no cabelo*), tão absurdo (*vide o caso UNIBAN, procure aqui no blog*) e tão aceito socialmente, que é necessário repetir e repetir que nós não somos cidadas de segunda classe e que não podemos aceitar ou nos calar. Na página da Campanha é possível obter informações atualizadas. Ela começou oficialmente no dia 20 de novembro até o dia 10 de dezembro. O video aí em cima está ligado à campanha. É apra chocar mesmo, porque esse tipo de coisa não pode continuar acontecendo.

12/11/2009

A turba da Uniban


Eu adoro os textos do Contardo Calligaris. Este foi o da semana passada que eu perdi. Ele sempre pega nos pontos certos (*e fez a analogia da bruxa como eu*) e no final escreve algo que muitos homens têm vergonha de confessar: sim, o feminismo é necessário. Segue o texto qeu é somente para assinantes da Folha de São Paulo.

CONTARDO CALLIGARIS

A turba da Uniban

NA SEMANA passada, em São Bernardo, uma estudante de primeiro ano do curso noturno de turismo da Uniban (Universidade Bandeirante de São Paulo) foi para a faculdade pronta para encontrar seu namorado depois das aulas: estava de minivestido rosa, saltos altos, maquiagem -uniforme de balada.

O resultado foi que 700 alunos da Uniban saíram das salas de aula e se aglomeraram numa turba: xingaram, tocaram, fotografaram e filmaram a moça. Com seus celulares ligados na mão, como tochas levantadas, eles pareciam uma ralé do século 16 querendo tocar fogo numa perigosa bruxa.

A história acabou com a jovem estudante trancada na sala de sua turma, com a multidão pressionando, por porta e janelas, pedindo explicitamente que ela fosse entregue para ser estuprada. Alguns colegas, funcionários e professores conseguiram proteger a moça até a chegada da PM, que a tirou da escola sob escolta, mas não pôde evitar que sua saída fosse acompanhada pelo coro dos boçais escandindo: "Pu-ta, pu-ta, pu-ta".

Entre esses boçais, houve aqueles que explicaram o acontecido como um "justo" protesto contra a "inadequação" da roupa da colega. Difícil levá-los a sério, visto que uma boa metade deles saiu das salas de aula com seu chapéu cravado na cabeça.

Então, o que aconteceu? Para responder, demos uma volta pelos estádios de futebol ou pelas salas de estar das famílias na hora da transmissão de um jogo. Pois bem, nos estádios ou nas salas, todos (maiores ou menores) vocalizam sua opinião dos jogadores e da torcida do time adversário (assim como do árbitro, claro, sempre "vendido") de duas maneiras fundamentais: "veados" e "filhos da puta".

Esses insultos são invariavelmente escolhidos por serem, na opinião de ambas as torcidas, os que mais podem ferir os adversários. E o método da escolha é simples: a gente sempre acha que o pior insulto é o que mais nos ofenderia. Ou seja, "veados" e "filhos da puta" são os insultos que todos lançam porque são os que ninguém quer ouvir.

Cuidado: "veado", nesse caso, não significa genericamente homossexual. Tanto assim que os ditos "veados", por exemplo, são encorajados vivamente a pegar no sexo de quem os insulta ou a ficar de quatro para que possam ser "usados" por seus ofensores. "Veado", nesse insulto, está mais para "bichinha", "mulherzinha" ou, simplesmente, "mulher".

Quanto a "filho da puta", é óbvio que ninguém acredita que todas as mães da torcida adversa sejam profissionais do sexo. "Puta", nesse caso (assim como no coro da Uniban), significa mulher licenciosa, mulher que poderia (pasme!) gostar de sexo.
Os membros das torcidas e os 700 da Uniban descobrem assim um terreno comum: é o ódio do feminino -não das mulheres como gênero, mas do feminino, ou seja, da ideia de que as mulheres tenham ou possam ter um desejo próprio.

O estupro é, para essas turbas, o grande remédio: punitivo e corretivo. Como assim? Simples: uma mulher se aventura a desejar? Ela tem a impudência de "querer"? Pois vamos lhe lembrar que sexo, para ela, deve permanecer um sofrimento imposto, uma violência sofrida -nunca uma iniciativa ou um prazer.

A violência e o desprezo aplicados coletivamente pelo grupo só servem para esconder a insuficiência de cada um, se ele tivesse que responder ao desejo e às expectativas de uma parceira, em vez de lhe impor uma transa forçada.

Espero que o Ministério Público persiga os membros da turba da Uniban que incitaram ao estupro. Espero que a jovem estudante encontre um advogado que a ajude a exigir da própria Uniban (incapaz de garantir a segurança de seus alunos) todos os danos morais aos quais ela tem direito. E espero que, com isso, a Uniban se interrogue com urgência sobre como agir contra a ignorância e a vulnerabilidade aos piores efeitos grupais de 700 de seus estudantes. Uma sugestão, só para começar: que tal uma sessão de "Zorba, o Grego", com redação obrigatória no fim?

Agora, devo umas desculpas a todas as mulheres que militam ou militaram no feminismo. Ainda recentemente, pensei (e disse, numa entrevista) que, a meu ver, o feminismo tinha chegado ao fim de sua tarefa histórica. Em particular, eu acreditava que, depois de 40 anos de luta feminista, ao menos um objetivo tivesse sido atingido: o reconhecimento pelos homens de que as mulheres (também) desejam. Pois é, os fatos provam que eu estava errado.

ccalligari@uol.com.br

Da coluna de hoje (12/11) do autor A novela da Uniban continua. Na sexta passada, por decisão do Conselho Universitário da Uniban, Geisy Arruda, ameaçada de estupro e linchamento coletivos, foi expulsa da universidade, porque, "claro", tudo isso aconteceu por ela ter tido posturas provocantes. Em caso de estupro, aliás, a gente sabe que a culpa é sempre da mulher; quem manda usar minivestido, hein? São todas putas, não é? Gostam de provocar e depois se queixam se os garotos as tratam como merecem.

Eu achava mesmo que esses papos sinistros só sobrevivessem nos piores botecos e, mesmo assim, em horário avançado. Talvez o Conselho da Uniban, para chegar à sua decisão, tenha se reunido num boteco. Numa universidade é que não pode ter sido.

Bom, na última segunda, o reitor da Uniban revogou a expulsão de Geisy. "Imparcial", também revogou a suspensão de seis alunos identificados entre os agressores.

08/11/2009

Vamos tentar tirar a UNIBAN do PROUNI



A UNIBAN recebe verbas do PROUNI (Programa Universidade para Todos), ou seja, dinheiro dos nossos impostos. Use este formulário na página do PROUNI. Uma série de e-mails pode ajudar a desqualificar a UNIBAN para o próximo ano ou o seguinte, quem sabe. E, claro, o programa não vai tirar as bolsas dos que já as possuem, simplesmente deixará de enviar mais dinheiro para esta insituição que patrocina a violência contra as mulheres.

Se nos calarmos, a UNIBAN e outras instituições que patrocinam a violência de gênero vão continuar existindo e se achando impunes. Outros casos como o de Geisy podem voltar a acontecer e a juventude pseudo-moralista vai se sentir segura para apontar os dedos e, quem sabe, de uma próxima vez, apedrejar ou estuprar DE VERDADE. Porque o estupro simbólico já aconteceu.

Basta escrever um e-mail. Vamos transformar a indignação em ação. O dinheiro dos seus impsotos também patrocina a UNIBAN. Não lembra do caso? Leia meu outro post sobre o caso clicando aqui.

07/11/2009

Caso UNIBAN... Pronto, falei!



Eu iria deixar para o podcast que já está gravado (*para meu outro blog, o Shoujo Café*), mas a última notícia sobre o caso UNIBAN me força a trazer para cá. Primeiro, quando ouvi falar do caso, imaginei que raios de tamanho de saia a moça estaria usando. Quando vi o vestido, fiquei pasma: "O quê?! O escândalo foi por causa disso? Esse pessoal nunca viu uma mulher de minissaia?". Meu marido e eu começamos a imaginar mil teorias para o ocorrido. Mas, quando vi os vídeos, as matérias, os depoimentos hipócritas, o disse-me-disse, as mocinhas dizendo que minissaia não é roupa adequada ao ambiente acadêmico e que ela "estava pedindo", minha indignação foi crescendo, o nojo, a aversão, a sensação de que realmente a barbárie impera, só qeu agora, foi a última gota, pois a UNIBAN expulsou a moça!

O site R7 reproduziu o absurdo comunicado da universidade que tem partes como: “Depoimentos de colegas indicam que, no interior do toalete feminino, a aluna se negou a complementar sua vestimenta para desfazer o clima que se havia criado.” e “Foi constatado que a atitude provocativa da aluna, no dia 22 de outubro, buscou chamar a atenção para si por conta de gestos e modos de se expressar, o que resultou numa reação coletiva de defesa do ambiente escolar.”

Quer dizer que antes a universidade não tinha o que relatar, agora, segundo o comunicado “advertiu a moça várias vezes”. E, claro, em cima de boatos e fofocas (*com tanta filmagem, cadê alguma que mostra a menina levantando o vestido ou o que seja?*), a considera culpada. E, pior, diz que aquela reação digna de botequim ou de prisão em rebelião é “reação coletiva de defesa do ambiente escolar”?

Sinceramente? Eu freqüento o ambiente universitário desde 1993, no Rio e em Brasília, fora minhas andanças em seminários, congressos e outros eventos em todo o país. Cansei de ver minissaias, shortinhos (*para meninos e meninas*), até sujeitos sem camisa, e outros que nem vou relatar. Nunca vi, no entanto, nenhuma moça sendo agredida por causa disso, ou rapazes advertidos. Obviamente, a universidade seria muito mais inteligente – embora isso não apagasse sua negligencia – se apresentasse o manual do/a estudante com um código de vestimentas que proibisse, por exemplo, o uso de minissaias, porque em São Paulo, ao que parece, isso não é roupa para ir à universidade. Me engana...

O que aconteceu na UNIBAN lembra muito a caça às bruxas. Elegeu-se um alvo. Uma mulher... Que novidade! Ela é agredida, cercada, ameaçada de estupro (*houve várias testemunhas relatando*), o pessoal da universidade quer que ela vá para casa sem apoio. Depois, se inicia uma difamação de que ela seria garota de programa. De novo, ainda que verdade, isso não justifica a agressão, tampouco qualquer mulher deveria ser excluída do ambiente universitário por ser prostituta. Aliás, são os usuários de prostitutas que geralmente apontam os dedinhos... Elas não são boas o bastante para sentarem com eles nos bancos de escola, só servem como latrina.

E algo que se destaca neste caso, além da misoginia, a homofobia. A misoginia usa das mulheres. A mídia se esmera em entrevistar “boas moças” que não usam minissaia na universidade, porque elas não são como Geisy. Questão de gênero, é preciso marcar quem são as “santas” e quem são as “putas”, essas menina sprecisam marcar quem elas são, queimarem a outra na fogueira, porque, se não, vão estar pedindo, também. E tudo isso para o consumo de quem? Dos machos que desejam e aterrorizam uma Geisy. O machismo não se sustenta se nós, mulheres, não formos convencidas a reproduzi-lo em maior ou menor grau. E homofobia, porque querem dizer que os tetosterônicos rapazes, prontos a estuprar a moça de minissaia, seriam gays, porque esse tipo de atitude é “coisa de gay”. Legal, né?

Enfim, Geisy é pobre, mostrou-se absolutamente despolitizada e desconhecedora dos seus direitos (*acha que parte da culpa é sua, afirma que gosta de ser olhada, cantada, assediada*). Que pelo menos o advogado que apresentou-se para assumir seu caso realmente o faça. E que a UNIBAN tenha que pagar uma indenização monstruosa para essa moça que está sendo lesada. Aliás, não acredito nas bravatas de que ninguém vai contratar formandos da UNIBAN (*isso foi comentado no Twitter*), mas eu teria vergonha de estudar nessa universidade que seleciona tão mal seus alunos e alunas e considera reações criminosas como a do dia 22 de outubro como “defesa do ambiente escolar”.

E eu não compararia ao Taleban, porque eles quando cometem atitudes bárbaras contra as mulheres se ancoram em um conjunto “coerente” de valores, já o caso UNIBAN reflete o descontrole, a falta de cidadania e respeito com o próximo, especialmente quando se trata de uma mulher. E não pensem que somente uma Geisy corre risco, qualquer mulher corre, qualquer uma de nós (*feia ou bonita, gorda ou magra, jovem ou velha, coberta ou descoberta*), está aí apra ser assediada, apropriada. Se ninguém fizer nada, se a UNIBAN sair ilesa, isso só será reforçado. E a UNIBAN, ou pelo menos o campus em questão (*culpar todos os alunos e alunas, de todos os campus, e mesmo daquele, é profundamente injusto*), deveria ser chamado de tudo, menos de ambiente escolar.

Outra coisa: há quem diga que a universidade deve ensinar cidadania. Não! Discordo! Cidadania se ensina em casa e na escola. Quando você vai apra a universidade já é adulto, na maioria das vezes maior de idade, e está em busca de formação profissional e científica. Deve saber quais são os seus limites. E os alunos e alunas daquele campus da UNIBAN ultrapassaram qualquer limite. E devem ser tratados como são, adultos que merecem ser punidos por seus atos, e não serem defendidos pela universidade que decide "queimar a bruxa".

26/08/2009

Sexismo na Política


Esse é o nome do novo blog que acabou de entrar no ar e vale uma olhada. As autoras são muito competentes e agudas nas suas críticas. Claro, que o assunto principal é como a Dilma - ou qualquer mulher - é inadequada como candidata por causa de sua aparência, dedo em riste, agressividade ou falta de sexy appeal. A coisa é muito séria e não se pode fechar os olhos para isso, ainda que se tenha todos e mais alguns motivos apra não gostar deste ou daquele partido, desta ou daquela candidata.

Aliás, há quem esteja fechando os olhos para o sexismo raivoso embutido nas críticas feitas à Dilma, simplesmente porque odeia ou se decepcionou (*whatever*) com o PT. Se a gente cala a boca, o resultado é que vamos servir de fantoches para um processo que lá no fundo tem como objetivo nos inferiorizar, objetificar e reforças a exclusão das mulheres dos cargos políticos.

13/07/2009

A mãe deixou a filha sozinha em casae ela caiu do 5º andar



Eu estou espumando por causa da matéria do Bom Dia Brasil sobre a queda de uma menina do 5º andar. Para a Globo, esta criança, que tinha pai e mãe, ambos na festa, morreu por culpa da mãe que “(...) deixou a filha sozinha em casa”. É a demonização das mulheres em ação, na hora do seu café da manhã. Todos os outros jornais, o Dia (*é só clicar*), e a Folha (*aí embaixo*), falam em pais, pois neste caso, ambos foram responsabilizados, mas a Globo só falou que havia um pai no final da matéria. Todo o foco foi na mãe irresponsável, negligente, colocada para falar diante da câmera em visível estado choque. Interessante é que a Record não fez assim, não expôs a mulher, e, claro, seguindo os jornais impressos, usou “pais” o tempo inteiro.

Eu questiono a prisão de ambos, como o faz um pediatra no fim da matéria. Eles podem ter sido irresponsáveis, mas já estão sendo penalizados pela perda da criança, que parecia ser caçula. E os vizinhos atestam o quanto ambos amavam a menina. Interessante, é que meus pais, por essas regras, teriam que ter sido presos. Eu fiquei várias vezes sozinha em casa, porque pedi, desde os 6 ou 7 anos. A idéia de ficar 4 horas em pé com minha mãe na fila de um banco ou em reuniões ou festas chatas, me desanimava. Era muito melhor ficar em casa assistindo desenho, desenhando, brincando. Nunca toquei fogo na casa, bebi produtos de limpeza, pulei da laje porque assisti o desenho do Peter Pan que dizia “Pense uma coisa bem boa e num instante você voa!”. Mas meu marido aqui, que nunca ficou só em casa porque minha sogra já tinha quase 50 quando ele nasceu e mal saia de casa, seria capaz de aprontar dessas.

Enfim, estou postando o caso aqui, porque questiono a forma como a matéria da Globo foi conduzida e a meu ver é mais um exemplo de como a mídia estigmatiza as mulheres e as torna únicas responsáveis pelos filhos e filhas, ainda que estes tenham pais.

Menina cai do 5º andar e morre no Rio; pais são presos

A polícia descarta homicídio, mas prendeu o casal sob acusação de abandono de incapaz

Rita de Cássia, 5, estava sozinha no apartamento quando caiu; os pais estavam em uma festa junina do condomínio

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO


A menina Rita de Cássia Rodrigues de Sena, 5, morreu na noite de sábado após cair da janela do apartamento onde morava, no 5º andar, em Tomás Coelho, na zona norte do Rio. Os pais da garota foram presos em flagrante sob acusação de abandono de incapaz -crime que prevê pena de prisão de quatro a 12 anos. A polícia descartou a hipótese de homicídio. O pai da menina disse que a morte foi uma fatalidade.

Fátima Rodrigues de Sena e seu marido, Gilson Rodrigues de Sena, pais da menina, estavam em uma festa junina no playground do condomínio na hora da tragédia. Segundo a mãe, na festa a garota reclamou que estava com sono. Fátima relatou que subiu com a menina por volta das 22h30 e a colocou para dormir. Fátima contou à polícia que resolveu voltar para a festa por volta das 23h para chamar a filha mais velha, de 14 anos, que está grávida.

Quando voltou ao apartamento, às 23h25, não achou a menina e pediu ajuda. Os vizinhos encontraram Rita caída no estacionamento. "Foi uma fração de segundo, tudo muito rápido. Quando vi o apartamento vazio, entrei em desespero. Achei que tivessem sequestrado a minha filha. Foi horrível", disse Fátima.

Segundo a polícia, a menina passou por um buraco na rede de proteção da janela da área de serviço. O rombo que já existia foi provavelmente alargado pela menina, que tinha uma pequena tesoura, onde foram encontrados fragmentos da tela. Antes de cair, a menina arremessou pela janela alguns objetos, como um lençol, um cobertor, uma mochila com roupas e brinquedos e a própria tesoura.

O delegado-adjunto da 25ª DP (Rocha), Marco Aurélio de Castro, disse que todas as evidências apontam para um caso de abandono de incapaz, agravado e qualificado por ter resultado em morte e por ter sido praticado pelos pais da vítima. "Foi uma fatalidade, sem dúvida, mas eles são responsáveis. Jamais poderiam ter deixado a menina sozinha. Foi negligência", disse Castro.

O delegado disse que a hipótese de homicídio está totalmente descartada graças às imagens de três câmeras do circuito interno de TV do prédio, instalado há apenas três meses. Nas cenas, que captaram o momento da queda (às 23h24), não aparece ninguém entrando no apartamento no período em que a garota ficou sozinha.

Castro disse que Rita não tinha marcas de agressão e que parecia ser bem tratada. "Era uma menina forte, robusta, bem nutrida. O próprio peso pode ter feito a rede ceder." De acordo com Castro, Rita provavelmente queria chamar a atenção dos pais ou estava brincando quando caiu.

Para o pediatra Lauro Monteiro Filho, fundador da Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e à Adolescência, não há dúvida de que se trata de um caso de negligência, embora tenha dúvidas se a prisão se justificaria num caso desses, em que não houve intenção de matar. "Criança tem de ser vigiada o tempo todo. Mas esse tipo de prisão é discutível", diz ele.
outro lado

Para o pai da criança, queda foi fatalidade
DA SUCURSAL DO RIO

Gilson Rodrigues de Sena, pai de Rita, disse que a morte foi uma fatalidade. "Ela me pediu para ir à festa. Deixei de ir ao chá de bebê da minha outra filha para dar prioridade à Ritinha. Eu a maquiei. Ela estava linda, alegre. Ela dançou. Foi como uma despedida", disse a mãe, Fátima. A advogada contratada disse à noite que já tinha pedido a liberdade provisória do casal.

11/07/2009

Assassinato de egípcia em Dresden por motivos xenófobos causa consternação



Eu não sabia desse caso até hoje à noite. Estão chamando esta moça de mártir do véu, o que para mim é uma tentativa de usar sua morte para justificar um dos símbolos visíveis do Islamismo e que é apontado por muitos (*e eu concordo*) como um dos elos da cadeia de submissão das mulheres. Mas sobre o uso político das roupas, eu aconselho ler o post da Cynthia Semiramis.

Acredito que esse sujeito atacou a pobre Marwa, primeiro porque ela era mulher. Ele muito provavelmente não agrediria um homem gratuitamente, pois poderia tomar uns sopapos. Não se espera que uma mulher reaja de forma violenta ou na mesma medida a uma agressão, é cultural. Além disso, chamar de vadia é a típica agressão misógina. Todas as mulheres são putas até que se prove o contrário. Segundo, ele a atacou porque era estrangeira, isso a torna vulnerável, pois está longe dos seus, de quem te dê apoio. E, claro, aí entra o fato de ser muçulmana, denunciada pelo véu, e injuriada por conta disso. Mas lembrem-se que o assassino era ele mesmo estrangeiro e desempregado, vindo de um país no qual o neonazismo e a xenofobia avançam a olhos vistos. Ele precisava descarregar em alguém as suas frustrações e eis que Marwa estava lá, e, pior, ele não poderia contar que a justiça desse ganho de causa para os “estrangeiros”, porque ele deve se ver como o europeu que perde o emprego para essas pessoas “inferiores”.

O que mais me espanta nisso tudo é como é fácil entrar armado em um tribunal alemão. Não é o primeiro caso que vejo e que resulta em morte. Ninguém dá 18 facadas (*em uma mulher grávida*) tão rápido que não possa ser contido. E, mais grave, quem leva o tiro é o marido da vítima e não o agressor. O racismo neste caso e a xenofobia têm papel mais importante que a religião, que para mim é a cereja do bolo. O desdém inicial do governo, reforça a visão de que o estrangeiro vale muito pouco. Agora lembrem da reação das charges e imaginem o que pode acontecer com uma situação muito mais série como foi este crime brutal. E tudo começa com a violência de gênero. Mulher estrangeira, alvo fácil. Segue a matéria do Deutsche Welle. Aqui, em inglês, há outras matérias BBC, Al Zazeera, The Huffington Post.

Assassinato de egípcia em Dresden por motivos xenófobos causa consternação

Morte de egípcia, esfaqueada por jovem xenófobo dentro de um tribunal alemão, desencadeia problemas entre Berlim e Cairo, depois que governo e mídia na Alemanha praticamente ignoraram o ocorrido.

Uma semana e meia depois que um jovem alemão de origem russa esfaqueou uma egípcia grávida de três meses, num tribunal de Dresden, foi organizada na cidade uma cerimônia de luto em lembrança da vítima do ataque xenófobo. Marwa El-Sherbini, uma farmacêutica de 31 anos, foi esfaqueada na quarta-feira da última semana (1°/07), tendo morrido pouco depois.

Marwa El-Sherbini havia entrado com uma queixa contra Alex W. em agosto de 2008, depois de ter sido insultada por este num parque infantil localizado numa praça da cidade. Ao acompanhar seu filho pequeno, Marwa El-Sherbini, que portava um lenço muçulmano, perguntou a Alex W., que se encontrava na praça com sua sobrinha, se este poderia se levantar de um balanço infantil para que seu filho pudesse balançar.
"Vadia, terrorista"

Alex W. começou então subitamente a chamar Marwa El-Sherbini de "vadia" e "terrorista", o que fez com que a egípcia procurasse as autoridades locais para entrar com uma queixa contra o agressor. O tribunal de Dresden condenou Alex W. por danos morais, exigindo do mesmo o pagamento de 780 euros. Durante as sessões do tribunal para o julgamento de Alex W., consta que este insultou a vítima outras vezes.

No dia 1° de julho último, em mais uma sessão do tribunal para julgar o caso, quando Marwa El-Sherbini encerrava seu depoimento, foi atacada por Alex W., que portava uma faca grande. A egípcia, segundo informação de testemunhas, foi morta com 18 facadas por seu agressor, tendo sido defendida no momento por seu marido, que a acompanhava no tribunal. Foi quando um policial que adentrou o recinto atirou erroneamente no marido de El-Sherbini, ferindo-o gravemente. O filho de três anos do casal presenciou toda a tragédia.

Silêncio inicial

No primeiro dia após o crime, grande parte da mídia alemã noticiou apenas em pequenas notas que "réu mata testemunha" em tribunal de Dresden. Somente um dia depois é que o teor xenófobo do crime veio à tona. "Foi claramente um ato xenófobo de um fanático", afirmou Christian Avenarius, promotor de Dresden.

Representantes da comunidade islâmica na Alemanha publicaram um comunicado público lamentando a pouca atenção dada pelas autoridades e pela opinião pública ao assassinato da egípcia por motivos xenófobos, em pleno tribunal.

Seis dias depois, o conselho que congrega as quatro maiores organizações muçulmanas na Alemanha publicava: "Marwa foi vítima de perseguição e calúnia, que vem acontecendo desde a decisão pela proibição do lenço muçulmano em departamentos públicos e levada a cabo em diversoss sites na internet. A política tem que levar a sério a islamofobia em nosso país".

Protestos no mundo islâmico

Em meio às críticas de que o governo alemão havia praticamente ignorado o ocorrido, Marwa El-Sherbini foi enterrada no Egito num clima de consternação geral. Mais de mil pessoas foram às ruas de Alexandria, terra natal da vítima, numa marcha fúnebre em sua memória.

Manifestantes protestaram em frente à embaixada alemã no Cairo. Também em Teerã manifestantes atiraram ovos contra o prédio da embaixada da Alemanha, gritando palavras de ordem contra "a Europa racista".

"Tudo o que tem ligação com o crime só será divulgado depois do início de um processo", afirmou Avenarius em Dresden à agência de notícias dpa, quando questionado a respeito de uma informação publicada pela revista Focus de que o agressor havia planejado o homicídio previamente.

Reação tardia do governo

Mais de uma semana depois do crime, a premiê Angela Merkel lamentou o fato perante o presidente egípcio, Husni Mubarak, durante o encontro do G8 em Áquila, na Itália. Segundo um porta-voz do governo, as autoridades em Berlim estão agora empenhadas em esclarecer o ocorrido "com a maior rapidez possível".

O ministro alemão do Exterior, Frank-Walter Steinmeier, assegurou a seu colega de pasta egípcio, Ahmed Abul Gheit, medidas mais severas que impeçam crimes como esse. "Insistimos que na Alemanha qualquer pessoa se sinta segura, independente de sua origem, nacionalidade ou crença religiosa", afirmou o ministro.
Alerta para o país

Maria Böhmer, encarregada do governo para questões de integração, visitou o marido da vítima num hospital de Dresden, onde este ainda se encontra gravemente ferido. Böhmer salientou após a visita que no país "não há lugar para a violência por motivos racistas ou religiosos".

Em comentário para a emissora de televisão ARD, a correspondente Esther Saoub diz que este caso deveria "servir de alerta" para todo o país. "Os egípcios se perguntaram: por que [na Alemanha] ninguém fala nada? Nós, alemães, deveríamos nos perguntar se a próxima mãe que chegar com um lenço muçulmano num parque infantil, e for xingada de terrorista, ainda vai ter a coragem de procurar a polícia. E se ela não fizer isso, quem é que vai fazer então?".


SV/dpa/afp/epd/ap/dw

07/07/2009

Papisa Joana



Descobri que não via atualizações do Lights, Camera, History, porque elas tinham se mudado e eu não tinha percebido. Agora, passando no site novo, vi que estavam comentando o filme Pope Joan (Papisa Joana). À princípio, pensei que se tratava do filme de 1972 com Liv Ullmann como a mulher que supostamente teria sido o papa João VIII.

Eu assisti o filme de 1972, baixei e tenho aqui no computador, nunca vi em VHS ou DVD. Tem pontos interessantes, mas é quase consenso entre os historiadores e historiadoras que se trata de uma a sátira anti-papal, produzida, provavelmente, em um momento em que o poder papal sofria críticas (séc. XIII) e que colocava a Papisa Joana no século IX, período conturbado da História do Papado. Enfim, eu não considero nada impossível quando o assunto é História, mas muitas dessas lendas juntam crítica à Igreja ou ao papado, com uma misoginia profunda. Joana, na maioria das versões, é uma mulher culta e promíscua. A Wikipedia (portuguêsinglês) dá outros exemplos nos quais a as características femininas “negativas” são acentuadas.

Antes que eu me perca, o novo filme é de 2009 e eu duvido que seja exibido nos cinemas daqui. Mas cairá na net e, com sorte, sairá em DVD. Daí, é pegar para assistir. Se for interessante, posso até passar para meus alunos e alunas de História da Igreja. Protestantes adoram essa historinha, exatamente pela desqualificação do papado através da mulher de vida imoral. Quer coisa mais horrível do que uma mulher usurpando o lugar "do homem". Deu no que deu, terminou ou morrendo de parto ou sendo estraçalhada pela multidão. Daí para a analogia com a Igreja Católica como "A Grande Prostituta" é um pulo. Talvez seja bom para a reflexão.

Tratamento de beleza vira moda entre crianças



O título encobre, na verdade, que se trata das meninas. Em nenhum momento se fala de garotos no Spa, submetendo-se a longos tratamentos de beleza, ou se sociabilizando com os pais neste espaço tão feliz. Afinal, são as meninas que precisam ser formatadas para que desde cedo se tornem bonecas, princesas que precisam ser vistas e não ouvidas. Meninas de 4 anos freqüentando o salão uma vez por semana, usando maquiagem e salto; aos 8 e 9 fazendo dietas para manterem-se magras e bonitas; aos 11 fazendo massagens e drenagens linfáticas, largando a natação, porque não querem ter ombros largos e fazendo curso de modelo e manequin para melhorar a postura; aos 18 colocando o primeiro botox. E comparar a sociabilidade do futebol entre país e filhos, com toda a carga de exercício e contato com a ida ao Spa da mão com a filha um dos piores absurdos possíveis. Mas é assim que os gêneros são construídos, suas diferenças e a futilidade femininas que muitos apontam como "natural":

"Minhas clientes dizem que é um dos poucos momentos que conseguem ficar com as filhas", diz Blanch. Em geral, mães e filhas dividem a mesma sala durante a sessão. E o spa passa a ter para elas o mesmo papel que o futebol no relacionamento entre pai e filho.

Obviamente, o sofrimento para quem não tem acesso a essas maravilhas, mas lê a matéria (*não se enganem, a Veja circula e pode ser encontrada em lugares que não são freqüentados pelo seu público alvo*), pode produzir várias distorções. Mas, para isso, recomendo o documentário A Criança é a Alma do Negócio. Enfim, deixo o post das duas matérias infames, a da Veja (*o que esperar?*) e a do Estadão. Não preciso publicá-las aqui, porque elas são abertas para não-assinantes. Soube delas pelo blog Escreva, Lola, Escreva. Concordo em quase tudo com o que ela escreve lá, então, recomendo a visita.

06/07/2009

É legal transar com crianças já prostituídas? Para o STF, sim.



A Época traz entrevista com a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS) sobre a repercussão da decisão do Supremo sobre o caso de Zequinha Barbosa e seu empresário. Foram absolvidos mesmo tendo "comprado" sexo com meninas abaixo da idade de consentimento. Uma amiga - que não é feminista - mas é advogada, disse que o erro foi processual e que o Supremo legislou corretamente. Eu, que sou leiga, concordo com a deputada e sinto medo do que tal precedente jurídico possa gera. Já o título do post veio deste blog aqui.

"A sentença do STJ é uma aberração"

A deputada federal Maria do Rosário diz que a absolvição do corredor Zequinha Barbosa, acusado de crime sexual contra menores, é um retrocesso
Ruth de Aquino

No Brasil, fazer sexo com crianças e adolescentes não é crime, desde que elas já tenham sido prostituídas e que o cliente pague um punhado de reais. Essa é a visão do Superior Tribunal de Justiça, que absolveu no dia 17 de junho Zequinha Barbosa (campeão mundial em 1987 na corrida de 800 metros rasos) e seu ex-assessor Luiz Otávio Flores da Anunciação. Em 2003, eles pegaram em um ponto de ônibus em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, duas adolescentes de 12 e 13 anos. Fizeram sexo com elas no motel, fotografaram as duas nuas e pagaram R$ 80. O STJ confirmou assim a sentença de um tribunal de Mato Grosso do Sul de 2006. O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) repudiou o desfecho em nota pública na semana passada. O Ministério Público de Mato Grosso do Sul recorrerá ao Supremo Tribunal Federal. Em entrevista a ÉPOCA, Maria do Rosário Nunes, relatora da CPI do Congresso sobre exploração sexual infantil, afirmou que a sentença contraria o Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990 e a Constituição de 1988.

ENTREVISTA - MARIA DO ROSÁRIO

QUEM É

Deputada federal (PT-RS), está no segundo mandato. Foi professora da rede pública e é especialista em violência doméstica pela USP. Fez mestrado sobre educação e sexualidade na UFRGS. É vice-presidente nacional do PT

O QUE FEZ

Foi vereadora em Porto Alegre e deputada estadual. Sempre fez parte das comissões parlamentares de educação e direitos humanos. Ela coordena a Frente Parlamentar de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente

ÉPOCA – O que a senhora achou da decisão do STJ?

Maria do Rosário – Aviltante, porque nega a essas meninas o direito de crescer com um mínimo de dignidade, apenas por já terem sido vítimas de exploração sexual anterior. O que está em jogo não é a virgindade nem se eles foram os primeiros a explorar as duas. Esse foi um caso claro de abuso de poder físico e econômico de dois homens adultos sobre o corpo das meninas. A absolvição abre um precedente perigoso: ao absolver os “clientes”, é como se as meninas pobres e exploradas sexualmente não estivessem cobertas por nenhuma lei, como se não fossem nem mais crianças ou adolescentes, mesmo com menos de 14 anos. Uma sentença assim estimula o turismo sexual infantil no Brasil.

ÉPOCA – Por que foi aberta uma CPI em 2003 e quais foram os resultados?

Maria do Rosário – Uma pesquisa nacional realizada de 2000 a 2002 identificou 240 rotas de tráfico sexual de crianças e mulheres no Brasil. Rotas domésticas e internacionais. Meninas oferecidas em estradas, em hotéis e em cursos de modelo por redes criminosas envolvendo advogados, políticos e personalidades. Com base nessa pesquisa, abrimos uma CPI, investigamos durante um ano a situação em 22 Estados. E encontramos essas duas meninas em Mato Grosso do Sul. Uma delas tinha sido oferecida pela própria mãe ao amante, um vereador conhecido, antes de se prostituir. O vereador fora absolvido por crimes semelhantes. A mãe da outra queria que ela abandonasse essa vida. Outras meninas já tinham sido traficadas para o Paraguai. Trocavam sexo por drogas. Adquiriam dívidas e não conseguiam voltar. As duas meninas só deram os nomes de Zequinha e Luiz Otávio porque, segundo elas, foram humilhadas e agredidas por eles. Criamos cinco projetos de lei. Um deles está paralisado no Senado. Propõe uma reforma que tire dos juízes a possibilidade de julgar uma menina ou um menino por sua classe social ou compleição física.

ÉPOCA – Há quem diga que os juízes não poderiam processar Zequinha e seu amigo por corrupção de menores porque elas já haviam sido corrompidas antes.

Maria do Rosário – Nossa legislação mudou muito nas duas últimas décadas. Ainda assim, o Código Penal trata o crime sexual como crime contra os costumes e tem uma visão distorcida da vítima. Mas já está superado o conceito de “mulher honesta” como condição para ter a proteção da lei. Isso acabou. Para absolver esses réus, os juízes do STJ usaram a doutrina anterior a nossa Constituição de 1988. Com isso, condenam essas meninas à exploração institucionalizada e colocam a violência sexual sob o manto do segredo, tanto na vida familiar quanto social. O crime fica invisível ao olhar acostumado da sociedade, estimulado pelas autoridades que deveriam assegurar os direitos das vítimas.

ÉPOCA – Como avançar na lei para evitar brechas e omissões?

Maria do Rosário – Em nosso projeto parado no Senado, dizemos que toda abordagem sexual de menores de 14 anos deve ser punida como crime. Estamos acabando com a distinção entre estupro e atentado violento ao pudor. No Brasil, atualmente, só existe estupro quando se consuma um ato vaginal completo. Qualquer outro tipo de sexo – oral, anal – não seria estupro, e, por isso, meninos não seriam vítimas. Mesmo que a pena possa ser igual nos dois delitos, a sociedade entende o atentado ao pudor como um crime menor.

“A absolvição abre um precedente perigoso. É como se as meninas pobres e exploradas sexualmente não estivessem cobertas por nenhuma lei”

ÉPOCA – Depois da CPI, o que aconteceu de concreto?

Maria do Rosário – Em dois anos de investigação, denunciamos 250 pessoas por atentado ao pudor e exploração sexual a crianças e adolescentes. Menos de 10% das denúncias chegaram a tribunais. O caso de Zequinha chegou ao STJ, mas a sentença é, para nós, uma surpresa e uma aberração. Imaginava que nossos juízes estivessem mais sintonizados com as reformas legais desde 1988. Cobro do Judiciário, mas sei que o Parlamento também precisa fazer sua parte e tornar nossas leis ainda mais claras. Não podemos é continuar assistindo de braços cruzados a esses voos charter que vêm da Europa somente com passageiros homens, atraídos por pacotes alinhavados com turismo sexual. Isso existe muito no Pantanal, assim como em muitos outros lugares do Brasil, além do Nordeste. Meninas novinhas são as mais caras – logo ficam depreciadas no mercado. Nas fronteiras do Brasil, existem filiais de cada lado com redes criminosas de hotéis, turismo e cafetões.

ÉPOCA – Algum projeto de lei criado pela CPI vingou?

Maria do Rosário – O que obriga todos os hotéis e estabelecimentos de diversão a exibir uma placa dizendo que exploração sexual de crianças é crime, com um número nacional de denúncia: 100.

ÉPOCA – O que, a seu ver, poderia ter levado o STJ a absolver os réus?

Maria do Rosário – Não pretendo dar argumentos aos juízes e irei aos ministros do Supremo antes de recorrer aos organismos internacionais. Mas acho que a decisão do STJ reflete algo terrível em nossa sociedade. A maneira dúbia com que se encaram hoje nossas crianças. Numa hora, é a criança anjo, sem sexo, desprovida de qualquer desejo. Outra hora, é um ser diabólico e provocador, a menina vista como ninfeta. A sociedade contemporânea tem misturado a sexualidade de adultos e crianças. O corpo jovem tem sido valorizado sexualmente além dos limites aceitáveis. Modelos são obrigadas a se enquadrar num corpo esquálido e quase infantil, manequim 36. Revistas masculinas associam a nudez de mulheres ao universo infantil, com ursinhos de pelúcia, uniforme de colegial, quartos de adolescentes. Os juízes acabam agindo como peça de uma engrenagem que subtrai a infância.

05/07/2009

A segunda morte de Eloá


Inaugurando o blog com uma matéria do Correio Braziliense sobre o Caso Eloá, acontecido em São Paulo no ano passado e que por conta da solidariedade para com o seqüestrador, provocou a morte de uma menina e danos físicos e psicológicos em outra. Agora, o jornal aqui de Brasília fala dos estragos à família.


Violência: A segunda morte de Eloá

Assassinato da adolescente, em outubro passado, deixou família desestruturada econômica e psicologicamente. Mãe vive praticamente na miséria

Ullisses Campbell

Santo André – Todas as vezes que vai à cozinha, a dona de casa Ana Cristina Pimentel, 42 anos, sente um aperto. Estão estampadas na porta da geladeira três marcas de balas de uma tragédia de consequências dolorosas. Ela é mãe de Eloá Pimentel, 15 anos, morta com um tiro na cabeça em outubro do ano passado depois de passar 100 horas sequestrada pelo ex-namorado Lindemberg Alves, 23 anos. Ana Cristina reclama que, além de perder a filha, o marido, Everaldo Pereira dos Santos, fugiu para não ser preso. Ele é procurado pela Polícia Civil de Alagoas. Sem a ajuda financeira do marido, a família de Eloá está na miséria.

Na época em que Eloá foi sequestrada, Everaldo morava com a família, usava o nome de Aldo e trabalhava como segurança particular. Ex-policial, recebia pensão da PM de Alagoas e da Associação de Cabos e Soldados de Maceió. Ana trabalhava numa creche e a renda familiar chegava a R$ 2,5 mil. Os dois irmãos de Eloá, um de 22 anos e outro de 14, também sofrem com a tragédia. “Fui afastada do trabalho porque não tenho condições de sair de casa todos os dias.” Contas de luz e telefone estão atrasadas.

No dia em que o Correio visitou Ana Cristina, em Santo André, o almoço estava prestes a ser servido. Na mesa, um ovo frito para cada e arroz. “Na época em que minha filha estava viva, sempre tinha carne.” Ela vive de R$ 265 que recebe de pensão por invalidez do INSS e da ajuda do filho, que é militar, e ganha um salário mínimo. “Antes, eu passeava no shopping, meus filhos faziam cursos de informática e inglês. Hoje, a diversão é assistir televisão.”

Solidariedade

Ana Cristina recebe solidariedade de vizinhos e amigos. Recentemente, foi convidada a ir a Belém (PA) conhecer Maria Augusta dos Anjos, 49, receptora do coração da filha. “Fiquei triste ao saber que a família está passando necessidade”, conta Maria Augusta. Para a viagem, Ana recebeu R$ 500 de uma ONG que incentiva doação de órgãos. Por causa de problemas psicológicos, ela usa dois medicamentos controlados doados pelo governo: sertralina(!) e clonazapam.

Ana diz ainda que é graças à droga que ela consegue dormir e sonhar com a filha. “No Dia das Mães, sonhei que estava numa praça com ela. A gente ria e se abraçava. Aí descia uma nuvem e ela sumia na névoa”, relata. Para tentar superar as dificuldades de hoje, ela faz sessão com um analista pago por programas sociais.

Depois que Eloá foi sepultada, o governo de São Paulo resolveu trocar o apartamento em que eles viviam na periferia de Santo André por uma casa de cinco cômodos. Na mudança, boa parte dos móveis ficaram para trás. Alguns, destruídos pela ação policial. O sofá, com manchas de sangue, Eloá doou. “Sugeriram mandar lavar, mas me recusei.”

A geladeira é o único eletrodoméstico de valor que pôde ser aproveitado. Guarda as marcas de balas. “Quando olho, meu coração dói por lembrar daquele dia. Comprar outra é sonho. Queria pelo menos poder mandar para oficina para apagarem essas marcas.”

ESTRESSE PÓS-TRAUMÁTICO

Medicamento usado para o tratamento da depressão. Geralmente é receitado para pacientes que passam por estresse pós-traumático. No caso de Ana Cristina, ela sofreu quase todos os efeitos colaterais do remédio, que incluem náuseas, vômitos, diarréia, falta de apetite e perda de peso, além de fadiga e sedação.

Acusação de pistolagem

A Polícia Civil de Alagoas mantém as buscas ao pai de Eloá, o alagoano Everaldo Pereira dos Santos, 48. Acusado de integrar um grupo de extermínio que matava sob encomenda no início da década de 1990, ele está foragido há 16 anos e reapareceu publicamente no enterro da filha.

No mês passado, policiais chegaram ao município alagoano Matriz de Camaragibe graças a uma denúncia anônima. Ao entrarem na casa onde supostamente estaria o pai de Eloá, uma testemunha relatou que ele havia saído minutos antes. A polícia também chegou atrasada em dois endereços em São Paulo. Hoje, para capturá-lo, a polícia intercepta com autorização judicial o telefone da casa de Eloá e mais dois celulares.

Everaldo adotou o nome de Aldo Pimentel logo que fugiu de Maceió e há cinco anos morava na casa de Eloá. Apareceu publicamente no enterro, fotografado sendo socorrido pelos Bombeiros. Foi hospitalizado, mas fugiu antes de a polícia chegar. Contra ele, pesam acusações de ser um dos assassinos do delegado Ricardo Lessa, em 1991, em Maceió. Ele também responde pelo assassinato do motorista Antenor Carlota e outro homicídio na Comarca de Passo do Camaragibe.

O juiz Geraldo Amorim disse ao Correio que Everaldo vai ser julgado à revelia, já que o crime está prestes a prescrever. Segundo o MP de Alagoas, o pai de Eloá foi expulso da PM por envolvimento na “gangue fardada”, responsável por crimes de pistolagem, roubos de carros e assaltos. Ele poderá pegar de 12 a 30 anos de cadeia. O advogado José Beraldo disse que não vai informar o paradeiro de seu cliente. Ele disse que só não o entrega à polícia de Alagoas porque a corporação “é uma das mais corruptas do país”. “Pode estar em qualquer lugar. Vamos ver se a polícia acha”, ironiza.(UC)

Memória: Negociação desastrada

O sequestro de Eloá Pimentel, 15, entrou para a história de São Paulo como o maior cárcere privado já ocorrido no estado. Teve início em 13 de outubro de 2008,quando Lindemberg Fernandes Alves, 23 anos, invadiu o apartamento onde a ex-namorada (Eloá) fazia uma reunião com amigos, em Santo André. O sequestrador liberou dois reféns e manteve Eloá e amiga Nayara Silva. No dia seguinte, o sequestrador conversou por telefone com a mãe de Eloá, Ana Cristina e, depois, passou negociar com o comando do Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate).

Quando o sequestro completou dois dias, Nayara foi libertada, mas no dia seguinte a polícia paulista pediu que ela voltasse ao cativeiro para ajudar nas negociações. Quando o cárcere privado completou 100 horas, policiais do Gate e a Tropa de Choque da PM explodiram uma bomba na porta do apartamento alegando ter ouvido um disparo no interior do imóvel. Invadiram o local.

Os policiais teriam entrado em luta corporal com Lindemberg, que teve tempo de atirar em direção às reféns. Nayara deixou o apartamento andando, ferida com um tiro no rosto. Eloá saiu carregada em uma maca, foi levada inconsciente para o Centro Hospitalar de Santo André. Ela levou um tiro na virilha e outro fatal na cabeça. Lindemberg foi preso e Eloá teve morte cerebral três dias depois. Foi sepultada em 19 de outubro. (UC)

As Meninas e a Matemática



“A experiência em sala de aula nos diz que todos os alunos têm capacidade de aprender. O que faltam são professores preparados para motivá-los. Não tenho a menor dúvida de que tanto meninos quanto meninas têm a mesma capacidade”, concorda Reginaldo Ramos de Abreu, coordenador regional no DF das Olimpíadas Brasileiras de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP). “Na infância, a criança lida muito bem com qualquer área. O problema começa quando ela entra na escola. Se as pessoas ficam dizendo para elas, desde pequenas, que são incapazes de aprender, esses alunos acabam com desempenho pior nas exatas. É uma questão cultural”, afirma.

Essa parte acima resume bem todo a matéria do Correio Braziliense. E eu acrescentaria que a ausência de professoras de matemática e ciências exatas em geral, ou o seu adestramento para que repitam que "são boas com números, apesar de serem mulheres", é mais um empurrão apra que as meninas, especialmente na adolescência, deixem os números de lado. Obviamente, em comunidades de imigrantes nos EUA - chineses, indianos e outros - a coisa tem configuração diferente, pois matemática é "linguagem universal" e peis e mães com domínio restrito da língua inglesa podem auxiliar. Daí, os dados desses grupos tendem a contrariar o que seria "a regra geral".


Resposta ao machismo

Estudo realizado em universidade norte-americana desmente suposta inabilidade das mulheres para a matemática

• Paloma Oliveto


Desde cedo, as meninas aprendem que números não foram feitos para elas. Equações e fórmulas seriam coisa de meninos. De fato, eles ainda são maioria nas competições nacionais e internacionais de matemática e sobem mais ao pódio do que elas, mas um artigo recente publicado no jornal de ciências norte-americano Proceedings of the National Academy of Sciences desmente o senso comum de que as mulheres não têm o mesmo potencial que os homens no estudo da disciplina. As autoras, Janet Mertz e Janet Hyde, professoras da Universidade de Wisconsin-Madison, defendem que o desempenho inferior está relacionado apenas a questões culturais, sem qualquer influência biológica.

Homens e mulheres, dizem as pesquisadoras, têm a mesma capacidade de aprendizagem da matemática. Mas os estereótipos ligados à área das ciências exatas influenciariam a performance individual das alunas. Acostumadas ainda na infância a escutar que não nasceram para resolver questões de lógica, elas se sentiriam desestimuladas, o que acabaria atrapalhando os resultados nos testes.

Mesmo entre cientistas já formadas, essa é uma realidade. “Um estudo mostrou que mulheres cientistas que estavam em uma conferência onde 75% dos inscritos eram homens sentiram-se menos desejosas de participar e mesmo mais intimidadas do ponto de vista psicológico do que aquelas que estavam num evento onde os sexos estavam balanceados”, diz o artigo.

“A experiência em sala de aula nos diz que todos os alunos têm capacidade de aprender. O que faltam são professores preparados para motivá-los. Não tenho a menor dúvida de que tanto meninos quanto meninas têm a mesma capacidade”, concorda Reginaldo Ramos de Abreu, coordenador regional no DF das Olimpíadas Brasileiras de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP). “Na infância, a criança lida muito bem com qualquer área. O problema começa quando ela entra na escola. Se as pessoas ficam dizendo para elas, desde pequenas, que são incapazes de aprender, esses alunos acabam com desempenho pior nas exatas. É uma questão cultural”, afirma.

As pesquisadoras de Wisconsin-Madison estudaram os resultados de provas e olimpíadas de vários países e os correlacionaram ao nível de igualdade entre homens e mulheres em cada um deles, seguindo um documento elaborado no Fórum Econômico Mundial de 2007. O informe traz questões sobre oportunidades no mercado de trabalho, na política e na educação, entre outras áreas. “Países com grande paridade de gênero são aqueles onde a razão de meninos e meninas que vão bem em matemática é praticamente idêntica”, conta Janet Mertz. As pesquisadoras puderam observar que, em nações asiáticas, assim como na Inglaterra e na Irlanda, a quantidade de meninas e meninos que acertaram 99% das questões de uma prova internacional aplicada em 2003 foi a mesma.

Menina recordista

Coordenador regional da Olimpíada Brasileira de Matemática (OBM) desde 2005, Genildo Alves Marinho acredita que, por desenvolverem a linguagem mais cedo que os homens, as mulheres acabam se interessando mais pelas ciências humanas. “Mas isso não quer dizer que não podem ter o mesmo desempenho que os homens na matemática”, diz. Ele diz que, embora no número de inscritos na OBM ainda predominem os estudantes do sexo masculino, numa proporção média de 60%, o melhor resultado brasileiro até hoje foi de uma garota. A estudante da 8ª série do ensino fundamental do Centro Educacional Leonardo da Vinci foi a única medalhista de prata do país na Olimpíada de Maio, que ocorre na Argentina e reúne estudantes de toda a América Latina. Para chegar lá, teve de passar por três difíceis etapas, com provas objetivas e discursivas.

Com a experiência de lecionar para 13 turmas de matemática, Genildo diz que o interesse pela disciplina é igual entre homens e mulheres, com pequenas variações. Uma das alunas mais aplicadas é Sarah Calaça Felix, 17 anos. Estudante do 3º ano do ensino médio no Leonardo da Vinci de Taguatinga, a jovem faz um curso extraclasse de matemática avançada oferecida pela escola na parte da tarde. “Não sou uma expert, mas acho muito interessante. A matemática desenvolve o nosso raciocínio lógico. Dizer que homem é melhor é um preconceito da sociedade”, diz Sarah, que vai prestar vestibular para ciências contábeis. O gosto pela disciplina começou cedo. Ela estava na 2ª série do ensino fundamental e passou por dificuldades na hora de aprender divisão. “Eu pedia ajuda, mas ninguém sabia me explicar”, diz. Então, decidiu resolver, sozinha, a questão. Por conta própria, aprendeu e se apaixonou pelo tema.

Exemplos

Colega de escola, Raíssa Vitório Pereira, 17 anos, descobriu a matemática mais tarde, no último ano do ensino fundamental. “Foi quando começamos a aprender química e física e vi que a matemática pode ser aplicada na nossa realidade, no nosso dia a dia”, conta. Catarina Serra Braga, 15, que quer fazer medicina, também é fã da disciplina, que considera estimulante. “Quando ouvimos o nome de uma mulher que atua na área da ciência, nos surpreendemos. Antes, a mulher era muito reprimida, não tinha estímulo para entrar na área”, observa. Para Raíssa, a realidade começa a mudar. “Se você vai à UnB (Universidade de Brasília), vê que o número de mulheres nas (ciências) exatas é muito grande. E existem muitas mulheres que trabalham na área e são reconhecidas. Ainda não ultrapassamos os homens, mas estamos ganhando espaço”, acredita.

A professora do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da Universidade de São Paulo Maria Aparecida Soares Ruas, membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Matemática, confirma o palpite de Raíssa. No ensino superior, conta, há tanto mulheres quanto homens cursando exatas. “Mas à medida que vão prosseguindo os estudos é que a diminuição no número de mulheres é observada”, diz. Ela explica que as profissionais do sexo feminino chegam até mesmo ao doutorado mas, depois, acabam impedidas de seguir a carreira de cientista. “Para a mulher, ainda é difícil conciliar a vida pessoal com a profissional. O cientista precisa viajar muito, participar de congressos. Mesmo hoje, quando os homens participam mais das atividades domésticas, a mulher ainda tem dificuldades para conciliar a vida pessoal e o trabalho”, observa.

Matemáticas famosas

Amalie Emmy Noether – além de matemática, a alemã de Erlangen, nascida em março de 1882, era física. Trabalhou com destaque na área de álgebra e elaborou o Teorema de Noether, conectando simetria e leis de conservação

Gabrielle-Émile Le Tonnelier de Breteuil – conhecida como Marquesa de Châtelet, nasceu em dezembro de 1706, na França. Aos 27 anos, decidiu dedicar-se à matemática e, entre seus professores, está Voltaire. Com ele, escreveu Elementos da Física Newtoniana. É autora de vários artigos sobre Newton

Hipatia de Alexandria – nasceu em Alexandria por volta de 370 d.C. Foi educada pelo pai, com o qual colaborou na revisão de uma edição dos Elementos, de Euclides. Estudou aritmética, inventou aparelhos mecânicos e deu aulas do Museu de Alexandria

Maria Caetana Agnesi – a filósofa e matemática italiana nasceu em Milão, em maio de 1718. Foi a primeira pessoa a escrever um livro que tratou dos assuntos cálculo diferencial e integral. Sua obra mais famosa é Instituzioni Analitiche, um tratado sobre álgebra

Marie-Sophie Germain – francesa, nasceu em Paris, em 1776. Filha de um negociante bem-sucedido, preferiu ser pesquisadora a se casar. Foi premiada por seu trabalho com o último teorema de Fermat e reconhecida pelas contribuições às pesquisas sobre números primos e a teoria da elasticidade. Temendo preconceitos, adotou o pseudônimo de Monsieur Le Blanc