Eu não sabia desse caso até hoje à noite. Estão chamando esta moça de mártir do véu, o que para mim é uma tentativa de usar sua morte para justificar um dos símbolos visíveis do Islamismo e que é apontado por muitos (*e eu concordo*) como um dos elos da cadeia de submissão das mulheres. Mas sobre o uso político das roupas, eu aconselho ler o post da Cynthia Semiramis.
Acredito que esse sujeito atacou a pobre Marwa, primeiro porque ela era mulher. Ele muito provavelmente não agrediria um homem gratuitamente, pois poderia tomar uns sopapos. Não se espera que uma mulher reaja de forma violenta ou na mesma medida a uma agressão, é cultural. Além disso, chamar de vadia é a típica agressão misógina. Todas as mulheres são putas até que se prove o contrário. Segundo, ele a atacou porque era estrangeira, isso a torna vulnerável, pois está longe dos seus, de quem te dê apoio. E, claro, aí entra o fato de ser muçulmana, denunciada pelo véu, e injuriada por conta disso. Mas lembrem-se que o assassino era ele mesmo estrangeiro e desempregado, vindo de um país no qual o neonazismo e a xenofobia avançam a olhos vistos. Ele precisava descarregar em alguém as suas frustrações e eis que Marwa estava lá, e, pior, ele não poderia contar que a justiça desse ganho de causa para os “estrangeiros”, porque ele deve se ver como o europeu que perde o emprego para essas pessoas “inferiores”.
O que mais me espanta nisso tudo é como é fácil entrar armado em um tribunal alemão. Não é o primeiro caso que vejo e que resulta em morte. Ninguém dá 18 facadas (*em uma mulher grávida*) tão rápido que não possa ser contido. E, mais grave, quem leva o tiro é o marido da vítima e não o agressor. O racismo neste caso e a xenofobia têm papel mais importante que a religião, que para mim é a cereja do bolo. O desdém inicial do governo, reforça a visão de que o estrangeiro vale muito pouco. Agora lembrem da reação das charges e imaginem o que pode acontecer com uma situação muito mais série como foi este crime brutal. E tudo começa com a violência de gênero. Mulher estrangeira, alvo fácil. Segue a matéria do Deutsche Welle. Aqui, em inglês, há outras matérias BBC, Al Zazeera, The Huffington Post.
Assassinato de egípcia em Dresden por motivos xenófobos causa consternação
Morte de egípcia, esfaqueada por jovem xenófobo dentro de um tribunal alemão, desencadeia problemas entre Berlim e Cairo, depois que governo e mídia na Alemanha praticamente ignoraram o ocorrido.
Uma semana e meia depois que um jovem alemão de origem russa esfaqueou uma egípcia grávida de três meses, num tribunal de Dresden, foi organizada na cidade uma cerimônia de luto em lembrança da vítima do ataque xenófobo. Marwa El-Sherbini, uma farmacêutica de 31 anos, foi esfaqueada na quarta-feira da última semana (1°/07), tendo morrido pouco depois.
Marwa El-Sherbini havia entrado com uma queixa contra Alex W. em agosto de 2008, depois de ter sido insultada por este num parque infantil localizado numa praça da cidade. Ao acompanhar seu filho pequeno, Marwa El-Sherbini, que portava um lenço muçulmano, perguntou a Alex W., que se encontrava na praça com sua sobrinha, se este poderia se levantar de um balanço infantil para que seu filho pudesse balançar.
"Vadia, terrorista"
Alex W. começou então subitamente a chamar Marwa El-Sherbini de "vadia" e "terrorista", o que fez com que a egípcia procurasse as autoridades locais para entrar com uma queixa contra o agressor. O tribunal de Dresden condenou Alex W. por danos morais, exigindo do mesmo o pagamento de 780 euros. Durante as sessões do tribunal para o julgamento de Alex W., consta que este insultou a vítima outras vezes.
No dia 1° de julho último, em mais uma sessão do tribunal para julgar o caso, quando Marwa El-Sherbini encerrava seu depoimento, foi atacada por Alex W., que portava uma faca grande. A egípcia, segundo informação de testemunhas, foi morta com 18 facadas por seu agressor, tendo sido defendida no momento por seu marido, que a acompanhava no tribunal. Foi quando um policial que adentrou o recinto atirou erroneamente no marido de El-Sherbini, ferindo-o gravemente. O filho de três anos do casal presenciou toda a tragédia.
Silêncio inicial
No primeiro dia após o crime, grande parte da mídia alemã noticiou apenas em pequenas notas que "réu mata testemunha" em tribunal de Dresden. Somente um dia depois é que o teor xenófobo do crime veio à tona. "Foi claramente um ato xenófobo de um fanático", afirmou Christian Avenarius, promotor de Dresden.
Representantes da comunidade islâmica na Alemanha publicaram um comunicado público lamentando a pouca atenção dada pelas autoridades e pela opinião pública ao assassinato da egípcia por motivos xenófobos, em pleno tribunal.
Seis dias depois, o conselho que congrega as quatro maiores organizações muçulmanas na Alemanha publicava: "Marwa foi vítima de perseguição e calúnia, que vem acontecendo desde a decisão pela proibição do lenço muçulmano em departamentos públicos e levada a cabo em diversoss sites na internet. A política tem que levar a sério a islamofobia em nosso país".
Protestos no mundo islâmico
Em meio às críticas de que o governo alemão havia praticamente ignorado o ocorrido, Marwa El-Sherbini foi enterrada no Egito num clima de consternação geral. Mais de mil pessoas foram às ruas de Alexandria, terra natal da vítima, numa marcha fúnebre em sua memória.
Manifestantes protestaram em frente à embaixada alemã no Cairo. Também em Teerã manifestantes atiraram ovos contra o prédio da embaixada da Alemanha, gritando palavras de ordem contra "a Europa racista".
"Tudo o que tem ligação com o crime só será divulgado depois do início de um processo", afirmou Avenarius em Dresden à agência de notícias dpa, quando questionado a respeito de uma informação publicada pela revista Focus de que o agressor havia planejado o homicídio previamente.
Reação tardia do governo
Mais de uma semana depois do crime, a premiê Angela Merkel lamentou o fato perante o presidente egípcio, Husni Mubarak, durante o encontro do G8 em Áquila, na Itália. Segundo um porta-voz do governo, as autoridades em Berlim estão agora empenhadas em esclarecer o ocorrido "com a maior rapidez possível".
O ministro alemão do Exterior, Frank-Walter Steinmeier, assegurou a seu colega de pasta egípcio, Ahmed Abul Gheit, medidas mais severas que impeçam crimes como esse. "Insistimos que na Alemanha qualquer pessoa se sinta segura, independente de sua origem, nacionalidade ou crença religiosa", afirmou o ministro.
Alerta para o país
Maria Böhmer, encarregada do governo para questões de integração, visitou o marido da vítima num hospital de Dresden, onde este ainda se encontra gravemente ferido. Böhmer salientou após a visita que no país "não há lugar para a violência por motivos racistas ou religiosos".
Em comentário para a emissora de televisão ARD, a correspondente Esther Saoub diz que este caso deveria "servir de alerta" para todo o país. "Os egípcios se perguntaram: por que [na Alemanha] ninguém fala nada? Nós, alemães, deveríamos nos perguntar se a próxima mãe que chegar com um lenço muçulmano num parque infantil, e for xingada de terrorista, ainda vai ter a coragem de procurar a polícia. E se ela não fizer isso, quem é que vai fazer então?".
SV/dpa/afp/epd/ap/dw
Acredito que esse sujeito atacou a pobre Marwa, primeiro porque ela era mulher. Ele muito provavelmente não agrediria um homem gratuitamente, pois poderia tomar uns sopapos. Não se espera que uma mulher reaja de forma violenta ou na mesma medida a uma agressão, é cultural. Além disso, chamar de vadia é a típica agressão misógina. Todas as mulheres são putas até que se prove o contrário. Segundo, ele a atacou porque era estrangeira, isso a torna vulnerável, pois está longe dos seus, de quem te dê apoio. E, claro, aí entra o fato de ser muçulmana, denunciada pelo véu, e injuriada por conta disso. Mas lembrem-se que o assassino era ele mesmo estrangeiro e desempregado, vindo de um país no qual o neonazismo e a xenofobia avançam a olhos vistos. Ele precisava descarregar em alguém as suas frustrações e eis que Marwa estava lá, e, pior, ele não poderia contar que a justiça desse ganho de causa para os “estrangeiros”, porque ele deve se ver como o europeu que perde o emprego para essas pessoas “inferiores”.
O que mais me espanta nisso tudo é como é fácil entrar armado em um tribunal alemão. Não é o primeiro caso que vejo e que resulta em morte. Ninguém dá 18 facadas (*em uma mulher grávida*) tão rápido que não possa ser contido. E, mais grave, quem leva o tiro é o marido da vítima e não o agressor. O racismo neste caso e a xenofobia têm papel mais importante que a religião, que para mim é a cereja do bolo. O desdém inicial do governo, reforça a visão de que o estrangeiro vale muito pouco. Agora lembrem da reação das charges e imaginem o que pode acontecer com uma situação muito mais série como foi este crime brutal. E tudo começa com a violência de gênero. Mulher estrangeira, alvo fácil. Segue a matéria do Deutsche Welle. Aqui, em inglês, há outras matérias BBC, Al Zazeera, The Huffington Post.
Assassinato de egípcia em Dresden por motivos xenófobos causa consternação
Morte de egípcia, esfaqueada por jovem xenófobo dentro de um tribunal alemão, desencadeia problemas entre Berlim e Cairo, depois que governo e mídia na Alemanha praticamente ignoraram o ocorrido.
Uma semana e meia depois que um jovem alemão de origem russa esfaqueou uma egípcia grávida de três meses, num tribunal de Dresden, foi organizada na cidade uma cerimônia de luto em lembrança da vítima do ataque xenófobo. Marwa El-Sherbini, uma farmacêutica de 31 anos, foi esfaqueada na quarta-feira da última semana (1°/07), tendo morrido pouco depois.
Marwa El-Sherbini havia entrado com uma queixa contra Alex W. em agosto de 2008, depois de ter sido insultada por este num parque infantil localizado numa praça da cidade. Ao acompanhar seu filho pequeno, Marwa El-Sherbini, que portava um lenço muçulmano, perguntou a Alex W., que se encontrava na praça com sua sobrinha, se este poderia se levantar de um balanço infantil para que seu filho pudesse balançar.
"Vadia, terrorista"
Alex W. começou então subitamente a chamar Marwa El-Sherbini de "vadia" e "terrorista", o que fez com que a egípcia procurasse as autoridades locais para entrar com uma queixa contra o agressor. O tribunal de Dresden condenou Alex W. por danos morais, exigindo do mesmo o pagamento de 780 euros. Durante as sessões do tribunal para o julgamento de Alex W., consta que este insultou a vítima outras vezes.
No dia 1° de julho último, em mais uma sessão do tribunal para julgar o caso, quando Marwa El-Sherbini encerrava seu depoimento, foi atacada por Alex W., que portava uma faca grande. A egípcia, segundo informação de testemunhas, foi morta com 18 facadas por seu agressor, tendo sido defendida no momento por seu marido, que a acompanhava no tribunal. Foi quando um policial que adentrou o recinto atirou erroneamente no marido de El-Sherbini, ferindo-o gravemente. O filho de três anos do casal presenciou toda a tragédia.
Silêncio inicial
No primeiro dia após o crime, grande parte da mídia alemã noticiou apenas em pequenas notas que "réu mata testemunha" em tribunal de Dresden. Somente um dia depois é que o teor xenófobo do crime veio à tona. "Foi claramente um ato xenófobo de um fanático", afirmou Christian Avenarius, promotor de Dresden.
Representantes da comunidade islâmica na Alemanha publicaram um comunicado público lamentando a pouca atenção dada pelas autoridades e pela opinião pública ao assassinato da egípcia por motivos xenófobos, em pleno tribunal.
Seis dias depois, o conselho que congrega as quatro maiores organizações muçulmanas na Alemanha publicava: "Marwa foi vítima de perseguição e calúnia, que vem acontecendo desde a decisão pela proibição do lenço muçulmano em departamentos públicos e levada a cabo em diversoss sites na internet. A política tem que levar a sério a islamofobia em nosso país".
Protestos no mundo islâmico
Em meio às críticas de que o governo alemão havia praticamente ignorado o ocorrido, Marwa El-Sherbini foi enterrada no Egito num clima de consternação geral. Mais de mil pessoas foram às ruas de Alexandria, terra natal da vítima, numa marcha fúnebre em sua memória.
Manifestantes protestaram em frente à embaixada alemã no Cairo. Também em Teerã manifestantes atiraram ovos contra o prédio da embaixada da Alemanha, gritando palavras de ordem contra "a Europa racista".
"Tudo o que tem ligação com o crime só será divulgado depois do início de um processo", afirmou Avenarius em Dresden à agência de notícias dpa, quando questionado a respeito de uma informação publicada pela revista Focus de que o agressor havia planejado o homicídio previamente.
Reação tardia do governo
Mais de uma semana depois do crime, a premiê Angela Merkel lamentou o fato perante o presidente egípcio, Husni Mubarak, durante o encontro do G8 em Áquila, na Itália. Segundo um porta-voz do governo, as autoridades em Berlim estão agora empenhadas em esclarecer o ocorrido "com a maior rapidez possível".
O ministro alemão do Exterior, Frank-Walter Steinmeier, assegurou a seu colega de pasta egípcio, Ahmed Abul Gheit, medidas mais severas que impeçam crimes como esse. "Insistimos que na Alemanha qualquer pessoa se sinta segura, independente de sua origem, nacionalidade ou crença religiosa", afirmou o ministro.
Alerta para o país
Maria Böhmer, encarregada do governo para questões de integração, visitou o marido da vítima num hospital de Dresden, onde este ainda se encontra gravemente ferido. Böhmer salientou após a visita que no país "não há lugar para a violência por motivos racistas ou religiosos".
Em comentário para a emissora de televisão ARD, a correspondente Esther Saoub diz que este caso deveria "servir de alerta" para todo o país. "Os egípcios se perguntaram: por que [na Alemanha] ninguém fala nada? Nós, alemães, deveríamos nos perguntar se a próxima mãe que chegar com um lenço muçulmano num parque infantil, e for xingada de terrorista, ainda vai ter a coragem de procurar a polícia. E se ela não fizer isso, quem é que vai fazer então?".
SV/dpa/afp/epd/ap/dw
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