Inaugurando o blog com uma matéria do Correio Braziliense sobre o Caso Eloá, acontecido em São Paulo no ano passado e que por conta da solidariedade para com o seqüestrador, provocou a morte de uma menina e danos físicos e psicológicos em outra. Agora, o jornal aqui de Brasília fala dos estragos à família.
Violência: A segunda morte de Eloá
Assassinato da adolescente, em outubro passado, deixou família desestruturada econômica e psicologicamente. Mãe vive praticamente na miséria
Ullisses Campbell
Santo André – Todas as vezes que vai à cozinha, a dona de casa Ana Cristina Pimentel, 42 anos, sente um aperto. Estão estampadas na porta da geladeira três marcas de balas de uma tragédia de consequências dolorosas. Ela é mãe de Eloá Pimentel, 15 anos, morta com um tiro na cabeça em outubro do ano passado depois de passar 100 horas sequestrada pelo ex-namorado Lindemberg Alves, 23 anos. Ana Cristina reclama que, além de perder a filha, o marido, Everaldo Pereira dos Santos, fugiu para não ser preso. Ele é procurado pela Polícia Civil de Alagoas. Sem a ajuda financeira do marido, a família de Eloá está na miséria.
Na época em que Eloá foi sequestrada, Everaldo morava com a família, usava o nome de Aldo e trabalhava como segurança particular. Ex-policial, recebia pensão da PM de Alagoas e da Associação de Cabos e Soldados de Maceió. Ana trabalhava numa creche e a renda familiar chegava a R$ 2,5 mil. Os dois irmãos de Eloá, um de 22 anos e outro de 14, também sofrem com a tragédia. “Fui afastada do trabalho porque não tenho condições de sair de casa todos os dias.” Contas de luz e telefone estão atrasadas.
No dia em que o Correio visitou Ana Cristina, em Santo André, o almoço estava prestes a ser servido. Na mesa, um ovo frito para cada e arroz. “Na época em que minha filha estava viva, sempre tinha carne.” Ela vive de R$ 265 que recebe de pensão por invalidez do INSS e da ajuda do filho, que é militar, e ganha um salário mínimo. “Antes, eu passeava no shopping, meus filhos faziam cursos de informática e inglês. Hoje, a diversão é assistir televisão.”
Solidariedade
Ana Cristina recebe solidariedade de vizinhos e amigos. Recentemente, foi convidada a ir a Belém (PA) conhecer Maria Augusta dos Anjos, 49, receptora do coração da filha. “Fiquei triste ao saber que a família está passando necessidade”, conta Maria Augusta. Para a viagem, Ana recebeu R$ 500 de uma ONG que incentiva doação de órgãos. Por causa de problemas psicológicos, ela usa dois medicamentos controlados doados pelo governo: sertralina(!) e clonazapam.
Ana diz ainda que é graças à droga que ela consegue dormir e sonhar com a filha. “No Dia das Mães, sonhei que estava numa praça com ela. A gente ria e se abraçava. Aí descia uma nuvem e ela sumia na névoa”, relata. Para tentar superar as dificuldades de hoje, ela faz sessão com um analista pago por programas sociais.
Depois que Eloá foi sepultada, o governo de São Paulo resolveu trocar o apartamento em que eles viviam na periferia de Santo André por uma casa de cinco cômodos. Na mudança, boa parte dos móveis ficaram para trás. Alguns, destruídos pela ação policial. O sofá, com manchas de sangue, Eloá doou. “Sugeriram mandar lavar, mas me recusei.”
A geladeira é o único eletrodoméstico de valor que pôde ser aproveitado. Guarda as marcas de balas. “Quando olho, meu coração dói por lembrar daquele dia. Comprar outra é sonho. Queria pelo menos poder mandar para oficina para apagarem essas marcas.”
ESTRESSE PÓS-TRAUMÁTICO
Medicamento usado para o tratamento da depressão. Geralmente é receitado para pacientes que passam por estresse pós-traumático. No caso de Ana Cristina, ela sofreu quase todos os efeitos colaterais do remédio, que incluem náuseas, vômitos, diarréia, falta de apetite e perda de peso, além de fadiga e sedação.
Acusação de pistolagem
A Polícia Civil de Alagoas mantém as buscas ao pai de Eloá, o alagoano Everaldo Pereira dos Santos, 48. Acusado de integrar um grupo de extermínio que matava sob encomenda no início da década de 1990, ele está foragido há 16 anos e reapareceu publicamente no enterro da filha.
No mês passado, policiais chegaram ao município alagoano Matriz de Camaragibe graças a uma denúncia anônima. Ao entrarem na casa onde supostamente estaria o pai de Eloá, uma testemunha relatou que ele havia saído minutos antes. A polícia também chegou atrasada em dois endereços em São Paulo. Hoje, para capturá-lo, a polícia intercepta com autorização judicial o telefone da casa de Eloá e mais dois celulares.
Everaldo adotou o nome de Aldo Pimentel logo que fugiu de Maceió e há cinco anos morava na casa de Eloá. Apareceu publicamente no enterro, fotografado sendo socorrido pelos Bombeiros. Foi hospitalizado, mas fugiu antes de a polícia chegar. Contra ele, pesam acusações de ser um dos assassinos do delegado Ricardo Lessa, em 1991, em Maceió. Ele também responde pelo assassinato do motorista Antenor Carlota e outro homicídio na Comarca de Passo do Camaragibe.
O juiz Geraldo Amorim disse ao Correio que Everaldo vai ser julgado à revelia, já que o crime está prestes a prescrever. Segundo o MP de Alagoas, o pai de Eloá foi expulso da PM por envolvimento na “gangue fardada”, responsável por crimes de pistolagem, roubos de carros e assaltos. Ele poderá pegar de 12 a 30 anos de cadeia. O advogado José Beraldo disse que não vai informar o paradeiro de seu cliente. Ele disse que só não o entrega à polícia de Alagoas porque a corporação “é uma das mais corruptas do país”. “Pode estar em qualquer lugar. Vamos ver se a polícia acha”, ironiza.(UC)
Memória: Negociação desastrada
O sequestro de Eloá Pimentel, 15, entrou para a história de São Paulo como o maior cárcere privado já ocorrido no estado. Teve início em 13 de outubro de 2008,quando Lindemberg Fernandes Alves, 23 anos, invadiu o apartamento onde a ex-namorada (Eloá) fazia uma reunião com amigos, em Santo André. O sequestrador liberou dois reféns e manteve Eloá e amiga Nayara Silva. No dia seguinte, o sequestrador conversou por telefone com a mãe de Eloá, Ana Cristina e, depois, passou negociar com o comando do Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate).
Quando o sequestro completou dois dias, Nayara foi libertada, mas no dia seguinte a polícia paulista pediu que ela voltasse ao cativeiro para ajudar nas negociações. Quando o cárcere privado completou 100 horas, policiais do Gate e a Tropa de Choque da PM explodiram uma bomba na porta do apartamento alegando ter ouvido um disparo no interior do imóvel. Invadiram o local.
Os policiais teriam entrado em luta corporal com Lindemberg, que teve tempo de atirar em direção às reféns. Nayara deixou o apartamento andando, ferida com um tiro no rosto. Eloá saiu carregada em uma maca, foi levada inconsciente para o Centro Hospitalar de Santo André. Ela levou um tiro na virilha e outro fatal na cabeça. Lindemberg foi preso e Eloá teve morte cerebral três dias depois. Foi sepultada em 19 de outubro. (UC)
Violência: A segunda morte de Eloá
Assassinato da adolescente, em outubro passado, deixou família desestruturada econômica e psicologicamente. Mãe vive praticamente na miséria
Ullisses Campbell
Santo André – Todas as vezes que vai à cozinha, a dona de casa Ana Cristina Pimentel, 42 anos, sente um aperto. Estão estampadas na porta da geladeira três marcas de balas de uma tragédia de consequências dolorosas. Ela é mãe de Eloá Pimentel, 15 anos, morta com um tiro na cabeça em outubro do ano passado depois de passar 100 horas sequestrada pelo ex-namorado Lindemberg Alves, 23 anos. Ana Cristina reclama que, além de perder a filha, o marido, Everaldo Pereira dos Santos, fugiu para não ser preso. Ele é procurado pela Polícia Civil de Alagoas. Sem a ajuda financeira do marido, a família de Eloá está na miséria.
Na época em que Eloá foi sequestrada, Everaldo morava com a família, usava o nome de Aldo e trabalhava como segurança particular. Ex-policial, recebia pensão da PM de Alagoas e da Associação de Cabos e Soldados de Maceió. Ana trabalhava numa creche e a renda familiar chegava a R$ 2,5 mil. Os dois irmãos de Eloá, um de 22 anos e outro de 14, também sofrem com a tragédia. “Fui afastada do trabalho porque não tenho condições de sair de casa todos os dias.” Contas de luz e telefone estão atrasadas.
No dia em que o Correio visitou Ana Cristina, em Santo André, o almoço estava prestes a ser servido. Na mesa, um ovo frito para cada e arroz. “Na época em que minha filha estava viva, sempre tinha carne.” Ela vive de R$ 265 que recebe de pensão por invalidez do INSS e da ajuda do filho, que é militar, e ganha um salário mínimo. “Antes, eu passeava no shopping, meus filhos faziam cursos de informática e inglês. Hoje, a diversão é assistir televisão.”
Solidariedade
Ana Cristina recebe solidariedade de vizinhos e amigos. Recentemente, foi convidada a ir a Belém (PA) conhecer Maria Augusta dos Anjos, 49, receptora do coração da filha. “Fiquei triste ao saber que a família está passando necessidade”, conta Maria Augusta. Para a viagem, Ana recebeu R$ 500 de uma ONG que incentiva doação de órgãos. Por causa de problemas psicológicos, ela usa dois medicamentos controlados doados pelo governo: sertralina(!) e clonazapam.
Ana diz ainda que é graças à droga que ela consegue dormir e sonhar com a filha. “No Dia das Mães, sonhei que estava numa praça com ela. A gente ria e se abraçava. Aí descia uma nuvem e ela sumia na névoa”, relata. Para tentar superar as dificuldades de hoje, ela faz sessão com um analista pago por programas sociais.
Depois que Eloá foi sepultada, o governo de São Paulo resolveu trocar o apartamento em que eles viviam na periferia de Santo André por uma casa de cinco cômodos. Na mudança, boa parte dos móveis ficaram para trás. Alguns, destruídos pela ação policial. O sofá, com manchas de sangue, Eloá doou. “Sugeriram mandar lavar, mas me recusei.”
A geladeira é o único eletrodoméstico de valor que pôde ser aproveitado. Guarda as marcas de balas. “Quando olho, meu coração dói por lembrar daquele dia. Comprar outra é sonho. Queria pelo menos poder mandar para oficina para apagarem essas marcas.”
ESTRESSE PÓS-TRAUMÁTICO
Medicamento usado para o tratamento da depressão. Geralmente é receitado para pacientes que passam por estresse pós-traumático. No caso de Ana Cristina, ela sofreu quase todos os efeitos colaterais do remédio, que incluem náuseas, vômitos, diarréia, falta de apetite e perda de peso, além de fadiga e sedação.
Acusação de pistolagem
A Polícia Civil de Alagoas mantém as buscas ao pai de Eloá, o alagoano Everaldo Pereira dos Santos, 48. Acusado de integrar um grupo de extermínio que matava sob encomenda no início da década de 1990, ele está foragido há 16 anos e reapareceu publicamente no enterro da filha.
No mês passado, policiais chegaram ao município alagoano Matriz de Camaragibe graças a uma denúncia anônima. Ao entrarem na casa onde supostamente estaria o pai de Eloá, uma testemunha relatou que ele havia saído minutos antes. A polícia também chegou atrasada em dois endereços em São Paulo. Hoje, para capturá-lo, a polícia intercepta com autorização judicial o telefone da casa de Eloá e mais dois celulares.
Everaldo adotou o nome de Aldo Pimentel logo que fugiu de Maceió e há cinco anos morava na casa de Eloá. Apareceu publicamente no enterro, fotografado sendo socorrido pelos Bombeiros. Foi hospitalizado, mas fugiu antes de a polícia chegar. Contra ele, pesam acusações de ser um dos assassinos do delegado Ricardo Lessa, em 1991, em Maceió. Ele também responde pelo assassinato do motorista Antenor Carlota e outro homicídio na Comarca de Passo do Camaragibe.
O juiz Geraldo Amorim disse ao Correio que Everaldo vai ser julgado à revelia, já que o crime está prestes a prescrever. Segundo o MP de Alagoas, o pai de Eloá foi expulso da PM por envolvimento na “gangue fardada”, responsável por crimes de pistolagem, roubos de carros e assaltos. Ele poderá pegar de 12 a 30 anos de cadeia. O advogado José Beraldo disse que não vai informar o paradeiro de seu cliente. Ele disse que só não o entrega à polícia de Alagoas porque a corporação “é uma das mais corruptas do país”. “Pode estar em qualquer lugar. Vamos ver se a polícia acha”, ironiza.(UC)
Memória: Negociação desastrada
O sequestro de Eloá Pimentel, 15, entrou para a história de São Paulo como o maior cárcere privado já ocorrido no estado. Teve início em 13 de outubro de 2008,quando Lindemberg Fernandes Alves, 23 anos, invadiu o apartamento onde a ex-namorada (Eloá) fazia uma reunião com amigos, em Santo André. O sequestrador liberou dois reféns e manteve Eloá e amiga Nayara Silva. No dia seguinte, o sequestrador conversou por telefone com a mãe de Eloá, Ana Cristina e, depois, passou negociar com o comando do Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate).
Quando o sequestro completou dois dias, Nayara foi libertada, mas no dia seguinte a polícia paulista pediu que ela voltasse ao cativeiro para ajudar nas negociações. Quando o cárcere privado completou 100 horas, policiais do Gate e a Tropa de Choque da PM explodiram uma bomba na porta do apartamento alegando ter ouvido um disparo no interior do imóvel. Invadiram o local.
Os policiais teriam entrado em luta corporal com Lindemberg, que teve tempo de atirar em direção às reféns. Nayara deixou o apartamento andando, ferida com um tiro no rosto. Eloá saiu carregada em uma maca, foi levada inconsciente para o Centro Hospitalar de Santo André. Ela levou um tiro na virilha e outro fatal na cabeça. Lindemberg foi preso e Eloá teve morte cerebral três dias depois. Foi sepultada em 19 de outubro. (UC)
Importante se lembrar: Foi o governador José Serra quem disparou o gatilho que a matou ao proibir por telefone que a polícia mandasse o maldito que a sequestrou para o inferno que ele merece. E isso não pode ser esquecido, principalmente quando certos meios de comunicação querem promover esse verme a presidência da república.
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