18/04/2012

E o Século XIX é revisitado em uma festa constrangedora



Quando abri a Folha de São Paulo hoje, deparei-me com essa foto chocante. A de cima, que fui procurar em uma resolução melhor em outro site, a outra encontrei na mesma busca. Há vários ângulos do bolo na internet. Vejam bem, houve uma festa (*não protesto*) no Moderna Museet (museu de arte moderna de Estocolmo), com a presença de ministra da Cultura sueca, Lena Adelsohn Liljeroth, o objetivo era chamar atenção para uma das maiores crueldades que são infringidas às mulheres, especialmente na África, mas, também, em alguns países do Oriente Médio, a mutilação genital feminina, que alguns tentam adocicar chamando de circuncisão feminina. A mutilação, prática mais que milenar no Continente Africano, tem como principal objetivo controlar o exercício da sexualidade feminina, em alguns casos, privando as mulheres de qualquer prazer sexual. Sancionada por algumas lideranças islâmicas, a prática resistiu apesar de não ser essencialmente muçulmana. Pois bem, um artista (*homem*) decidiu fazer essa beleza de bolo: uma mulher negra absolutamente estereotipada; nua, como as vênus negras colocadas em exposição no século XIX; com recheio vermelho; sugerindo carne e sangue; deveria ser cortada a partir das genitais pela ministra. A cada corte, um grito.


Olhem a foto. Mulheres brancas riem do bolo que é uma das coisas mais constrangedoras e ofensivas que eu já vi. Elas não se veem na mulher negra objetificada, levada ao extremo de ser oferecida como comida (*e gostosa*). O artista branco não se projetar na figura bizarra que criou, OK, mas mulheres na Suécia – um dos países com melhores índices de igualdade de gênero – não compreenderem isso, dói, dói muito. A associação Afro-Sueca qualificou (*com toda a razão*) a decisão da ministra de participar do evento mostra “incompetência e falta de discernimento” e pede sua demissão. Ela se diz antirracista. Eu acredito que seja, como tantos antirracistas que não conseguem perceber o quão racistas são. Só que a coisa transcende o racismo, porque traz de volta o gosto ruim do colonialismo, na apropriação do corpo das mulheres negras, como força de trabalho e fonte de prazer sexual. É triste, muito triste, ver imagens tão século XIX sendo reeditadas dessa forma.

11/04/2012

STF - Marco Aurélio “a mulher deve ser tratada como fim em si mesma e não como meio”



Hoje o Supremo Tribunal Federal retomou a discussão sobre o direito de interrupção da gravidez em casos de anencefalia. É preciso atentar para a importância desse julgamento, pois o que está em jogo é a cidadania plena das mulheres. Eu defendo o direito de escolha, o respeito aos direitos humanos das mulheres. Ninguém sobrevive sem cérebro, mulheres devem poder escolher sem constrangimentos se desejam, ou não, levar uma gravidez anencefálica até o fim. Direito, vejam bem, não é obrigação. Quem desejar seguir em frente, por amor, por crença, ou o que seja, poderá fazer isso sem problema. Para aqueles que usam de falácias como o tal "ato de amor", eu digo que amor não se impõe, amor não é algo que possa ser estabelecido por outros e imposto a quem está passando por uma situação de angústia e dor profunda: Chega de Torturar as Mulheres!

Quem defende o Direito de Escolha e cidadania plena das mulheres, não obriga ninguém a abortar. Agora, muitos dos (*supostos*) pró-vida estão dispostos a obrigar uma mulher a parir. Sua dor, sua saúde física ou mental, pouco importa. Isso não pode continuar a acontecer em um Estado Laico. Coloque-se no lugar da mulher que está grávida, do companheiro (*quando presente*), da família e, não, de princípios ditados por gente que só mostra sensibilidade em relação à princípios e que parece ter mais compromisso com um feto inviável do que com humanos que existem e (*provavelmente*) continuarão a existir, criar, amar, viver.

Agora, falta aqui no Brasil o compromisso em tentar evitar os casos de anencefalia. Ácido Fólico precisa ser incluído em vários alimentos, como farinhas, biscoitos, macarrão. Não será possível impedir todos os casos, mas poderemos tentar evitar que algo assim - ‘Engravidei duas vezes de bebês anencéfalos’ - aconteça.