25/11/2010

25 de novembro: Dia da Não-Violência contra as Mulheres



A violência de gênero é tão recorrente, tão recorrente, que nunca é demais repetir que ela existe, até porque tem gente que não lembra. Para se ter uma idéia, ontem uma menina de 15 anos foi morta à pancadas pelo pai em São Paulo. Motivo? Estava namorando escondido. Mas o delegado já mostrou para quem vai a simpatia: "Foi uma infelicidade. O pai não queria matar a filha, mas dar um corretivo". Alguém chuta a cabeça de uma pessoa (*mulheres são pessoas, eu acho*) por "infelicidade"? Acho que, não. E não concordo com uma discussão que explodiu no Twitter associando esse tipo de coisa a São Paulo, por conta das últimas explosões de racismo e homofobia. Não, amiguinhos! Pode acontecer e acontece em todo o lugar, não somente em São Paulo, não somente no Brasil.

01/11/2010

Eu vi a primeira presidente do Brasil ser eleita!



Eu avisei que escreveria um post para o Shoujo Café comentando a eleição de Dilma caso a coisa se concretizasse, e trouxe o post para cá. Da mesma forma que postei sobre a eleição de Obama, comento a de Dilma... Damesma forma, não, com muito mais prazer! Não vou discutir coisas que acho tolas como a frase “chegou a hora do Brasil ter uma mulher presidente”. Mulheres com competência para governar sempre tivemos, mas elas eram descartadas, bloqueadas, simplesmente pelo fato de serem mulheres. Quando princesas, a sua condição nobiliárquica lhes dava está possibilidade, sem passar por eleição. A Princesa Leopoldina exerceu função de governante quando D. Pedro estava na viagem a São Paulo que culminou no famoso sete de setembro. A Princesa Isabel ocupou o lugar do pai várias vezes. Mas eleita, ou mesmo candidata, nenhuma mulher tinha sido. Só de ter dois nomes femininos fortes na eleição, Marina Silva e Dilma, já era uma situação anômala.

Eu realmente não acreditava, quando sua candidatura foi lançada, que Dilma conseguisse chegar ao Planalto. E não por ser mulher, mas por ser desconhecida. Lula era uma estrela antes de eleito e sua popularidade só fez subir. E ele conseguiu transferir sua simpatia e popularidade para Dilma. Carisma é algo que não se transfere, agora, Dilma eleita terá que mostrar a que veio. No entanto, repito o que disse de Obama: Sei que efetivamente o fato dela ser mulher não representa coisa nenhuma, fora do ato simbólico que é ver uma mulher eleita em um país tão machista, tão carregado de preconceitos, e com uma campanha tão suja como aconteceu este ano. Hoje mesmo na Igreja, dois de meus alunos adolescentes me perguntaram em quem eu ia votar. O garoto, que iria votar em Serra, ficou horrorizado porque eu , professora de história, votaria em uma terrorista. Sim, a campanha de Serra fez questão de infamar quem lutou ativamente contra a ditadura, quando ele próprio o fez, ainda que sem pegar em armas. Já a outra menina, que não vota ainda, argumentou que era melhor anular o voto, porque “Dilma é sapatão”. Em uma campanha séria essas mentiras ficariam de fora, mas não foi assim. E a cereja do bolo foi Bento XVI aparecer para dar pitaco. Enfim, por toda a angústia e nojo que Serra me fez passar, desejo a sua morte política. Como ele traiu Alckmin e Aécio, os dois grandes vitoriosos do PSDB, tomara que eles o enterrem sem honras. E gostaria muito de ver o PSDB refundado, retomando seu ideário social-democrata e afastando-se da ala mais repulsiva da direita no Brasil. Será que isso acontecerá?

Enfim, não credito a vitória à Dilma. O vencedor é Lula, mas ela vai governar e irá imprimir a sua marca, juntando-se às outras 17 mulheres que estão no poder no mundo hoje. Pensem em quantos países temos e depois percebam como esse número é pequeno. Por isso mesmo, Dilma já está fazendo história. Sua importância é enorme. E eu sei que ela é capaz de governar com energia e competência. Rindo ou séria, cordial ou incisiva, ela será criticada e terá um governo dificílimo. Será julgada pelas suas rugas, pelas roupas que veste, pela cor do batom, por não ter marido e tudo mais que vocês sabem ser fundamental para um bom governo... feito por uma mulher, claro! E eu gostei da fala da queridíssima Marina Silva no Twitter, lembrou-me um pouco a elegância de McCain depois da vitória de Obama: “Quero parabenizar a ministra Dilma duas vezes. Por sua eleição como presidente e por ser a primeira mulher eleita para o cargo na República. (...) Aquela que era a candidata de uma parte dos brasileiros, a partir de agora, é a presidente eleita de todos nós nos próximos quatro anos”. Era essa a dignidade que muitos esperavam de Serra, mas ele não ofereceu. Não me surpreende. Ele agora deve estar sonhando com um possível golpe.

Enfim, eu estou muito feliz mesmo. Ouvi tanta bobagem por aí, recebi tantos e-mails sujos, ouvi e li tanta bobagem e mentira nos principais jornais e revistas deste país que me sinto de alma lavada. Agora, é esperar a próxima carga. A primeira já vemos no Twitter, é a culpabilização do Nordeste, esquecendo que mesmo em São Paulo e Rio Grande do Sul a diferença entre os candidatos foi apertada e que em Minas Gerais e Rio de Janeiro, dois dos cinco principais colégios eleitorais do Brasil, a vitória de Dilma foi convincente. Serra só ganhou nos estados dominados pelo agronegócio, e só ganhou de lavada em estados de pouca expressividade, como o Acre. Depois de tanto sofrimento, 11 milhões de votos de diferença não podem ser desdenhados... Salvo pelos maus perdedores. E a demonização do nordeste só vem confirmar o racismo e classismo mal disfarçado de alguns sulistas e paulistas que não olham seu próprio rabo. Vejam que São Paulo (*e não pensem que estou dizendo que todo paulista e paulistano votam mal assim*) elegeu Maluf, Clodovil, Enéas e Tiririca com recorde de votos. E, na boa, desse grupo, acho que o Tiririca periga ser o único do lote que talvez se salve em alguma coisa.

Mas voltemos para Dilma. Não sei se ela será uma excelente governante, mas ela nos livra de Serra e isso conta muito. Ela é uma construção (*guardem isso, porque é verdade*) de Lula, que foi o grande vitorioso do pleito. E o momento de grande emoção no discurso de Dilma, o único em um pronunciamento estudado e morno (*e sem menção aos direitos de todos independente de sua "orientação sexual" e com Magno Malta ao fundo*), foi quando o presidente foi citado. Ele triunfou sobre aquilo que há de mais reacionário no Brasil. Não é perfeito, tenho muitas críticas ao presidente Lula, mas é muito melhor que o Serra, a TFP, a ala direitista da Igreja Católica, o próprio Papa, o Silas Malafaia e tantos outros grupos e pessoas, como os que estão xingando o nordeste no Twitter. A maioria do povo brasileiro mostrou algum bom senso desta vez. Os que queriam "queimar a bruxa", talvez estejam agora colocando avatares de luto nos sites de relacionamento. Antes eles do que eu! Desejo à Dilma, que eu não acreditava ver eleita, que se impôs como minha candidata diante de todo esse circo eleitoral, um excelente governo, que ela coloque sua marca pessoal para além do ineditismo de representar todas as mulheres brasileiras. Sei que vamos subir sabe-se lá quantas posições no relatório de desigualdade de gênero. Espero que uma mulher presidente sirva para que tenhamos também mais governadoras, prefeitas, deputadas, senadoras e vereadoras.

Se um dia tiver filhas e filhos, quero poder recontar essa campanha, essa angústia, todas as humilhações que Serra impôs às mulheres, da apropriação discusiva dos nossos corpos, ao trazer o aborto para o centro do debate, até o estímulo à prostituição das suas eleitoras bonitas que deveriam trocar encontros com pelo menos 15 homens por votos. Mas ele perdeu, e toda essa corja terá que engolir uma mulher presidente. Enfim, daqui a pouco acordo para trabalhar e faço questão de ligar a TV para ver o Catão do SBT, o José Neumanne Pinto repetir que Dilma era uma candidata tão ruim que só o Aécio Neves seria capaz de perder para ela. Dilma e Aécio, talvez seu oponente daqui quatro anos, venceram, Serra e a PIG (Partido da Imprensa Golpista) foram derrotados. E vamos comemorar!

P.S.1: Para quem não entendeu a referência à Catão, trata-se de um estadista romano que terminava todo e qualquer discurso, segundo a lenda, com a frase "Ceterum censeo Carthaginem esse delendam" ("Por outro lado, opino que Cartago deve ser destruída"). Isso, porque Cartago tinha humilhado Roma e deveria ser varrida. Neumanne Pinto aproveitava de todas as suas inserções no jornal do SBT para falar mal do PT, poderia ser comentário de qualquer notícia de lingerie à futebol, mas sempre tinha que concluir com alguma crítica ao PT ou à Lula ou à Dilma.
P.S.2: Catão disse que não houve oposição, por isso Dilma venceu. Que todos foram intimidados e chantageados por Lula. Bem, ele não viu a mesma eleição apertada que eu vi. DSeve continuar fazendo a oposição surtada à Dilma só para manter a tradição.