05/07/2009

As Meninas e a Matemática



“A experiência em sala de aula nos diz que todos os alunos têm capacidade de aprender. O que faltam são professores preparados para motivá-los. Não tenho a menor dúvida de que tanto meninos quanto meninas têm a mesma capacidade”, concorda Reginaldo Ramos de Abreu, coordenador regional no DF das Olimpíadas Brasileiras de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP). “Na infância, a criança lida muito bem com qualquer área. O problema começa quando ela entra na escola. Se as pessoas ficam dizendo para elas, desde pequenas, que são incapazes de aprender, esses alunos acabam com desempenho pior nas exatas. É uma questão cultural”, afirma.

Essa parte acima resume bem todo a matéria do Correio Braziliense. E eu acrescentaria que a ausência de professoras de matemática e ciências exatas em geral, ou o seu adestramento para que repitam que "são boas com números, apesar de serem mulheres", é mais um empurrão apra que as meninas, especialmente na adolescência, deixem os números de lado. Obviamente, em comunidades de imigrantes nos EUA - chineses, indianos e outros - a coisa tem configuração diferente, pois matemática é "linguagem universal" e peis e mães com domínio restrito da língua inglesa podem auxiliar. Daí, os dados desses grupos tendem a contrariar o que seria "a regra geral".


Resposta ao machismo

Estudo realizado em universidade norte-americana desmente suposta inabilidade das mulheres para a matemática

• Paloma Oliveto


Desde cedo, as meninas aprendem que números não foram feitos para elas. Equações e fórmulas seriam coisa de meninos. De fato, eles ainda são maioria nas competições nacionais e internacionais de matemática e sobem mais ao pódio do que elas, mas um artigo recente publicado no jornal de ciências norte-americano Proceedings of the National Academy of Sciences desmente o senso comum de que as mulheres não têm o mesmo potencial que os homens no estudo da disciplina. As autoras, Janet Mertz e Janet Hyde, professoras da Universidade de Wisconsin-Madison, defendem que o desempenho inferior está relacionado apenas a questões culturais, sem qualquer influência biológica.

Homens e mulheres, dizem as pesquisadoras, têm a mesma capacidade de aprendizagem da matemática. Mas os estereótipos ligados à área das ciências exatas influenciariam a performance individual das alunas. Acostumadas ainda na infância a escutar que não nasceram para resolver questões de lógica, elas se sentiriam desestimuladas, o que acabaria atrapalhando os resultados nos testes.

Mesmo entre cientistas já formadas, essa é uma realidade. “Um estudo mostrou que mulheres cientistas que estavam em uma conferência onde 75% dos inscritos eram homens sentiram-se menos desejosas de participar e mesmo mais intimidadas do ponto de vista psicológico do que aquelas que estavam num evento onde os sexos estavam balanceados”, diz o artigo.

“A experiência em sala de aula nos diz que todos os alunos têm capacidade de aprender. O que faltam são professores preparados para motivá-los. Não tenho a menor dúvida de que tanto meninos quanto meninas têm a mesma capacidade”, concorda Reginaldo Ramos de Abreu, coordenador regional no DF das Olimpíadas Brasileiras de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP). “Na infância, a criança lida muito bem com qualquer área. O problema começa quando ela entra na escola. Se as pessoas ficam dizendo para elas, desde pequenas, que são incapazes de aprender, esses alunos acabam com desempenho pior nas exatas. É uma questão cultural”, afirma.

As pesquisadoras de Wisconsin-Madison estudaram os resultados de provas e olimpíadas de vários países e os correlacionaram ao nível de igualdade entre homens e mulheres em cada um deles, seguindo um documento elaborado no Fórum Econômico Mundial de 2007. O informe traz questões sobre oportunidades no mercado de trabalho, na política e na educação, entre outras áreas. “Países com grande paridade de gênero são aqueles onde a razão de meninos e meninas que vão bem em matemática é praticamente idêntica”, conta Janet Mertz. As pesquisadoras puderam observar que, em nações asiáticas, assim como na Inglaterra e na Irlanda, a quantidade de meninas e meninos que acertaram 99% das questões de uma prova internacional aplicada em 2003 foi a mesma.

Menina recordista

Coordenador regional da Olimpíada Brasileira de Matemática (OBM) desde 2005, Genildo Alves Marinho acredita que, por desenvolverem a linguagem mais cedo que os homens, as mulheres acabam se interessando mais pelas ciências humanas. “Mas isso não quer dizer que não podem ter o mesmo desempenho que os homens na matemática”, diz. Ele diz que, embora no número de inscritos na OBM ainda predominem os estudantes do sexo masculino, numa proporção média de 60%, o melhor resultado brasileiro até hoje foi de uma garota. A estudante da 8ª série do ensino fundamental do Centro Educacional Leonardo da Vinci foi a única medalhista de prata do país na Olimpíada de Maio, que ocorre na Argentina e reúne estudantes de toda a América Latina. Para chegar lá, teve de passar por três difíceis etapas, com provas objetivas e discursivas.

Com a experiência de lecionar para 13 turmas de matemática, Genildo diz que o interesse pela disciplina é igual entre homens e mulheres, com pequenas variações. Uma das alunas mais aplicadas é Sarah Calaça Felix, 17 anos. Estudante do 3º ano do ensino médio no Leonardo da Vinci de Taguatinga, a jovem faz um curso extraclasse de matemática avançada oferecida pela escola na parte da tarde. “Não sou uma expert, mas acho muito interessante. A matemática desenvolve o nosso raciocínio lógico. Dizer que homem é melhor é um preconceito da sociedade”, diz Sarah, que vai prestar vestibular para ciências contábeis. O gosto pela disciplina começou cedo. Ela estava na 2ª série do ensino fundamental e passou por dificuldades na hora de aprender divisão. “Eu pedia ajuda, mas ninguém sabia me explicar”, diz. Então, decidiu resolver, sozinha, a questão. Por conta própria, aprendeu e se apaixonou pelo tema.

Exemplos

Colega de escola, Raíssa Vitório Pereira, 17 anos, descobriu a matemática mais tarde, no último ano do ensino fundamental. “Foi quando começamos a aprender química e física e vi que a matemática pode ser aplicada na nossa realidade, no nosso dia a dia”, conta. Catarina Serra Braga, 15, que quer fazer medicina, também é fã da disciplina, que considera estimulante. “Quando ouvimos o nome de uma mulher que atua na área da ciência, nos surpreendemos. Antes, a mulher era muito reprimida, não tinha estímulo para entrar na área”, observa. Para Raíssa, a realidade começa a mudar. “Se você vai à UnB (Universidade de Brasília), vê que o número de mulheres nas (ciências) exatas é muito grande. E existem muitas mulheres que trabalham na área e são reconhecidas. Ainda não ultrapassamos os homens, mas estamos ganhando espaço”, acredita.

A professora do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da Universidade de São Paulo Maria Aparecida Soares Ruas, membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Matemática, confirma o palpite de Raíssa. No ensino superior, conta, há tanto mulheres quanto homens cursando exatas. “Mas à medida que vão prosseguindo os estudos é que a diminuição no número de mulheres é observada”, diz. Ela explica que as profissionais do sexo feminino chegam até mesmo ao doutorado mas, depois, acabam impedidas de seguir a carreira de cientista. “Para a mulher, ainda é difícil conciliar a vida pessoal com a profissional. O cientista precisa viajar muito, participar de congressos. Mesmo hoje, quando os homens participam mais das atividades domésticas, a mulher ainda tem dificuldades para conciliar a vida pessoal e o trabalho”, observa.

Matemáticas famosas

Amalie Emmy Noether – além de matemática, a alemã de Erlangen, nascida em março de 1882, era física. Trabalhou com destaque na área de álgebra e elaborou o Teorema de Noether, conectando simetria e leis de conservação

Gabrielle-Émile Le Tonnelier de Breteuil – conhecida como Marquesa de Châtelet, nasceu em dezembro de 1706, na França. Aos 27 anos, decidiu dedicar-se à matemática e, entre seus professores, está Voltaire. Com ele, escreveu Elementos da Física Newtoniana. É autora de vários artigos sobre Newton

Hipatia de Alexandria – nasceu em Alexandria por volta de 370 d.C. Foi educada pelo pai, com o qual colaborou na revisão de uma edição dos Elementos, de Euclides. Estudou aritmética, inventou aparelhos mecânicos e deu aulas do Museu de Alexandria

Maria Caetana Agnesi – a filósofa e matemática italiana nasceu em Milão, em maio de 1718. Foi a primeira pessoa a escrever um livro que tratou dos assuntos cálculo diferencial e integral. Sua obra mais famosa é Instituzioni Analitiche, um tratado sobre álgebra

Marie-Sophie Germain – francesa, nasceu em Paris, em 1776. Filha de um negociante bem-sucedido, preferiu ser pesquisadora a se casar. Foi premiada por seu trabalho com o último teorema de Fermat e reconhecida pelas contribuições às pesquisas sobre números primos e a teoria da elasticidade. Temendo preconceitos, adotou o pseudônimo de Monsieur Le Blanc

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