25/11/2010

25 de novembro: Dia da Não-Violência contra as Mulheres



A violência de gênero é tão recorrente, tão recorrente, que nunca é demais repetir que ela existe, até porque tem gente que não lembra. Para se ter uma idéia, ontem uma menina de 15 anos foi morta à pancadas pelo pai em São Paulo. Motivo? Estava namorando escondido. Mas o delegado já mostrou para quem vai a simpatia: "Foi uma infelicidade. O pai não queria matar a filha, mas dar um corretivo". Alguém chuta a cabeça de uma pessoa (*mulheres são pessoas, eu acho*) por "infelicidade"? Acho que, não. E não concordo com uma discussão que explodiu no Twitter associando esse tipo de coisa a São Paulo, por conta das últimas explosões de racismo e homofobia. Não, amiguinhos! Pode acontecer e acontece em todo o lugar, não somente em São Paulo, não somente no Brasil.

01/11/2010

Eu vi a primeira presidente do Brasil ser eleita!



Eu avisei que escreveria um post para o Shoujo Café comentando a eleição de Dilma caso a coisa se concretizasse, e trouxe o post para cá. Da mesma forma que postei sobre a eleição de Obama, comento a de Dilma... Damesma forma, não, com muito mais prazer! Não vou discutir coisas que acho tolas como a frase “chegou a hora do Brasil ter uma mulher presidente”. Mulheres com competência para governar sempre tivemos, mas elas eram descartadas, bloqueadas, simplesmente pelo fato de serem mulheres. Quando princesas, a sua condição nobiliárquica lhes dava está possibilidade, sem passar por eleição. A Princesa Leopoldina exerceu função de governante quando D. Pedro estava na viagem a São Paulo que culminou no famoso sete de setembro. A Princesa Isabel ocupou o lugar do pai várias vezes. Mas eleita, ou mesmo candidata, nenhuma mulher tinha sido. Só de ter dois nomes femininos fortes na eleição, Marina Silva e Dilma, já era uma situação anômala.

Eu realmente não acreditava, quando sua candidatura foi lançada, que Dilma conseguisse chegar ao Planalto. E não por ser mulher, mas por ser desconhecida. Lula era uma estrela antes de eleito e sua popularidade só fez subir. E ele conseguiu transferir sua simpatia e popularidade para Dilma. Carisma é algo que não se transfere, agora, Dilma eleita terá que mostrar a que veio. No entanto, repito o que disse de Obama: Sei que efetivamente o fato dela ser mulher não representa coisa nenhuma, fora do ato simbólico que é ver uma mulher eleita em um país tão machista, tão carregado de preconceitos, e com uma campanha tão suja como aconteceu este ano. Hoje mesmo na Igreja, dois de meus alunos adolescentes me perguntaram em quem eu ia votar. O garoto, que iria votar em Serra, ficou horrorizado porque eu , professora de história, votaria em uma terrorista. Sim, a campanha de Serra fez questão de infamar quem lutou ativamente contra a ditadura, quando ele próprio o fez, ainda que sem pegar em armas. Já a outra menina, que não vota ainda, argumentou que era melhor anular o voto, porque “Dilma é sapatão”. Em uma campanha séria essas mentiras ficariam de fora, mas não foi assim. E a cereja do bolo foi Bento XVI aparecer para dar pitaco. Enfim, por toda a angústia e nojo que Serra me fez passar, desejo a sua morte política. Como ele traiu Alckmin e Aécio, os dois grandes vitoriosos do PSDB, tomara que eles o enterrem sem honras. E gostaria muito de ver o PSDB refundado, retomando seu ideário social-democrata e afastando-se da ala mais repulsiva da direita no Brasil. Será que isso acontecerá?

Enfim, não credito a vitória à Dilma. O vencedor é Lula, mas ela vai governar e irá imprimir a sua marca, juntando-se às outras 17 mulheres que estão no poder no mundo hoje. Pensem em quantos países temos e depois percebam como esse número é pequeno. Por isso mesmo, Dilma já está fazendo história. Sua importância é enorme. E eu sei que ela é capaz de governar com energia e competência. Rindo ou séria, cordial ou incisiva, ela será criticada e terá um governo dificílimo. Será julgada pelas suas rugas, pelas roupas que veste, pela cor do batom, por não ter marido e tudo mais que vocês sabem ser fundamental para um bom governo... feito por uma mulher, claro! E eu gostei da fala da queridíssima Marina Silva no Twitter, lembrou-me um pouco a elegância de McCain depois da vitória de Obama: “Quero parabenizar a ministra Dilma duas vezes. Por sua eleição como presidente e por ser a primeira mulher eleita para o cargo na República. (...) Aquela que era a candidata de uma parte dos brasileiros, a partir de agora, é a presidente eleita de todos nós nos próximos quatro anos”. Era essa a dignidade que muitos esperavam de Serra, mas ele não ofereceu. Não me surpreende. Ele agora deve estar sonhando com um possível golpe.

Enfim, eu estou muito feliz mesmo. Ouvi tanta bobagem por aí, recebi tantos e-mails sujos, ouvi e li tanta bobagem e mentira nos principais jornais e revistas deste país que me sinto de alma lavada. Agora, é esperar a próxima carga. A primeira já vemos no Twitter, é a culpabilização do Nordeste, esquecendo que mesmo em São Paulo e Rio Grande do Sul a diferença entre os candidatos foi apertada e que em Minas Gerais e Rio de Janeiro, dois dos cinco principais colégios eleitorais do Brasil, a vitória de Dilma foi convincente. Serra só ganhou nos estados dominados pelo agronegócio, e só ganhou de lavada em estados de pouca expressividade, como o Acre. Depois de tanto sofrimento, 11 milhões de votos de diferença não podem ser desdenhados... Salvo pelos maus perdedores. E a demonização do nordeste só vem confirmar o racismo e classismo mal disfarçado de alguns sulistas e paulistas que não olham seu próprio rabo. Vejam que São Paulo (*e não pensem que estou dizendo que todo paulista e paulistano votam mal assim*) elegeu Maluf, Clodovil, Enéas e Tiririca com recorde de votos. E, na boa, desse grupo, acho que o Tiririca periga ser o único do lote que talvez se salve em alguma coisa.

Mas voltemos para Dilma. Não sei se ela será uma excelente governante, mas ela nos livra de Serra e isso conta muito. Ela é uma construção (*guardem isso, porque é verdade*) de Lula, que foi o grande vitorioso do pleito. E o momento de grande emoção no discurso de Dilma, o único em um pronunciamento estudado e morno (*e sem menção aos direitos de todos independente de sua "orientação sexual" e com Magno Malta ao fundo*), foi quando o presidente foi citado. Ele triunfou sobre aquilo que há de mais reacionário no Brasil. Não é perfeito, tenho muitas críticas ao presidente Lula, mas é muito melhor que o Serra, a TFP, a ala direitista da Igreja Católica, o próprio Papa, o Silas Malafaia e tantos outros grupos e pessoas, como os que estão xingando o nordeste no Twitter. A maioria do povo brasileiro mostrou algum bom senso desta vez. Os que queriam "queimar a bruxa", talvez estejam agora colocando avatares de luto nos sites de relacionamento. Antes eles do que eu! Desejo à Dilma, que eu não acreditava ver eleita, que se impôs como minha candidata diante de todo esse circo eleitoral, um excelente governo, que ela coloque sua marca pessoal para além do ineditismo de representar todas as mulheres brasileiras. Sei que vamos subir sabe-se lá quantas posições no relatório de desigualdade de gênero. Espero que uma mulher presidente sirva para que tenhamos também mais governadoras, prefeitas, deputadas, senadoras e vereadoras.

Se um dia tiver filhas e filhos, quero poder recontar essa campanha, essa angústia, todas as humilhações que Serra impôs às mulheres, da apropriação discusiva dos nossos corpos, ao trazer o aborto para o centro do debate, até o estímulo à prostituição das suas eleitoras bonitas que deveriam trocar encontros com pelo menos 15 homens por votos. Mas ele perdeu, e toda essa corja terá que engolir uma mulher presidente. Enfim, daqui a pouco acordo para trabalhar e faço questão de ligar a TV para ver o Catão do SBT, o José Neumanne Pinto repetir que Dilma era uma candidata tão ruim que só o Aécio Neves seria capaz de perder para ela. Dilma e Aécio, talvez seu oponente daqui quatro anos, venceram, Serra e a PIG (Partido da Imprensa Golpista) foram derrotados. E vamos comemorar!

P.S.1: Para quem não entendeu a referência à Catão, trata-se de um estadista romano que terminava todo e qualquer discurso, segundo a lenda, com a frase "Ceterum censeo Carthaginem esse delendam" ("Por outro lado, opino que Cartago deve ser destruída"). Isso, porque Cartago tinha humilhado Roma e deveria ser varrida. Neumanne Pinto aproveitava de todas as suas inserções no jornal do SBT para falar mal do PT, poderia ser comentário de qualquer notícia de lingerie à futebol, mas sempre tinha que concluir com alguma crítica ao PT ou à Lula ou à Dilma.
P.S.2: Catão disse que não houve oposição, por isso Dilma venceu. Que todos foram intimidados e chantageados por Lula. Bem, ele não viu a mesma eleição apertada que eu vi. DSeve continuar fazendo a oposição surtada à Dilma só para manter a tradição.

31/10/2010

Voto em Dilma não porque ela é mulher, mas porque eu sou mulher



A frase acima não foi criada por mim, ou aqui no Brasil, ela veio da pré-campanha democrata americana que contrapôs Barak Obama e Hilary Clinton. Infelizmente, no nosso caso, não se trata de escolher entre um Obama e uma Hilary, o que não seria doloroso, mas entre o projeto político do PT, com todas as suas falhas, com o PMDB (*capaz de mudar de lado sem problema*) à reboque, e um candidato que não não mostra respeito pelas mulheres e que tem no seu círculo o que de pior existe na política brasileira. Meu voto é antes de tudo contra Serra; a TFP (Tradição Família e Propriedade*) com os Monarquistas marcando forte presença; o DEM (*que teve seu único governo "chapa-pura"cassado aqui no DF por corrpução*); a ala ultra-direitista da Igreja Católica (*que ainda deseja rezar uma versão da missa em latim que chama os judeus de assassinos*), e especialmente o seu líder que ousou dar pitaco eleitoral agora bem na véspera endossando a propaganda apócrifa e contra as leis deste país (*e não falo do estado laico, falo de lei eleitoral*); os Integralistas, os (neo)Nazistas, Silas Malafaia (*que traiu Marina ainda no 1º turno, porque Serra era mais cristão que ela e é um dos paladinos da homofobia neste país*), os saudosos da ditadura militar.

Essa turma toda que anda com o Serra já seria bom motivo para não votar nele. Esse grupo, usando dos métodos mais sujos, como vídeos e panfletos, aterrorizou e fez muita gente votar, não em Serra, mas em Marina! E isso bastou para que tivéssemos o inferno do 2º turno. Minha mãe fez isso, porque Dilma "era a favor do aborto, porque parecia sapatão". E eu quase chorei, porque minha mãe está acima da média do evangélico realmente praticante, e se deixou cooptar. Estranhamente, o mesmo material de campanha, não fala que Serra se posicionou a favor da união civil entre homossexuais e que fez regulamentar, quando ministro, a lei do período Vargas que garante o direito de aborto em dois únicos casos, estupro e risco de vida da mãe. Detalhes que ele e a turma que o apóia quer esquecer. O Rio de Janeiro, e minha famílai vota lá, definiu o 1º turno. Na casa dos meus pais, foram dois votos para Marina, e um para Dilma. E como eu senti orgulho do meu pai, que disse não ter motivos para votar em Marina e que, para ele, o governo atual era bom e deveria continuar o mesmo projeto. Ele lembra da Era FHC, os outros parecem ter esquecido. Meu pai é o menos escolarizado e o mais crítico em matéria de fé e política. Se ele tivesse sido convencido por propaganda suja, aí, sim, eu daria tudo como perdido.

Eu estarei simplesmente repetindo meu voto. Por mais simpatias que eu tivesse por Marina, e por mais que Dilma não me convencesse (*seu grande mérito, para mim, é não negar seu passado como guerrilheira*), o PV não teria estrutura para governar e seus grandes nomes , salvo a própria candidata, estavam todos muito propensos a mudar de lado, ainda antes do resultado do 1º turno. Não posso ajudar esses grupos a tomar o poder no Brasil. Contra isso devo lutar usando o meu voto.

Eu não quero que a direita mais suja e retrógrada deste país tome conta do Brasil. Como mulher, como feminista, como alguém que é contra os racismos e a homofobia, como alguém que se preocupa com as políticas sociais, e mesmo como funcionária pública, tenho que votar no PT. É um voto crítico, é um voto desconfiado, mas é o voto contra Serra. Nunca vi uma campanha tão suja na minha vida. O uso de e-mails e panfletos mentirosos e terroristas, o apoio quase que irrestrito da grande imprensa ao candidato tucano, a cooptação de pastores... E, claro, temos o discurso do controle sobre os corpos das mulheres (*obviamente, o aborto sumiu da campanha quando ficou exposto que o próprio candidato e sua esposa fizeram um*) e o estímulo á homofobia como bônus. José Serra e seus aliados são um perigo ao nosso frágil Estado laico, uma das poucas e boas heranças de uma intervenção militar na política brasileira. E, para fechar com chave de ouro, Serra ainda age como cafetão e estimula suas eleitoras a trocarem algum favor amoroso (*ou sexual*) por votos (*e o link é da Folha de São Paulo, para ninguém pensar que é artimanha da "esquerda"*). E estabelece o número de 15! Como mulher, eu não posso desejar que este homem seja o meu presidente. E nem quero comentar a fraude da bolinha de papel e outras mais graves como a dos dossiês ou o desvio de verbas do rodo anel e do metrô de São Paulo que produziu várias mortes (*e, a julgar pela solda utilizada, outras ainda podem vir*).

Mas minha ojeriza por Serra vem de longe, muito longe. Vem de quando esse senhor, então governador de São Paulo, se solidarizou com o seqüestrador da menina Eloá e não permitiu que a polícia fizesse seu trabalho direito. Prometeu-se, em semana de eleição, que o seqüestrador não seria ferido. E não foi, quem morreu foi Eloá e sua amiga, outra adolescente, saiu ferida. Para completar, o mesmo Serra apareceu na TV dizendo que um acidente infeliz tinha acontecido. A menina já deveria estar morta, “o acidente” se chama incompetência e desprezo pela vida das mulheres, especialmente as pobres. Pois bem, se não tivesse qualquer outro motivo para destestá-lo e querer vê-lo varrido da política no Brasil, este bastaria. Por Eloá, eu não posso coperar para que este senhor chegue a presidente do Brasil.

Não sei se Dilma irá vencer hoje, não quero nem vou cantar vitória antes do tempo. Não confio em pesquisas, mas espero sinceramente que elas estejam certas. Quero poder voltar mais tarde e escrever aqui que tenho orgulho de ver a primeira mulher presidente do Brasil e poder ver gente (*mulheres, inclusive*) que repete a frase "aproveitem que amanhã é Halloween e queimem uma bruxa... Votem 45", tendo que engolir o que disse. Eu posso ser a próxima bruxa a ser queimada, afinal, sou feminista, aliás, ser mulher já bastaria. Enfim, pare e reflita sobre o Brasil que você quer, se vale a pena permitir que o que há de mais reacionário no Brasil volte ao poder, ou se dar um voto de confiança à Dilma e ao PT não seria a saída. Votar nulo ou se abster neste momento é ajudar Serra. Eu, pelo menos quero ter minha consciência tranqüila. Reclamar depois não adianta. É preciso que cada um d enós faça a sua parte e vote com consciência.

15/10/2010

Vida de Hildegard Von Bingen no cinema


Hildegard Von Bingen (1098 –1179) foi uma das mentes mais brilhantes da Idade Média, e uma das poucas mulheres do período que costumam receber a devida homenagem por seus méritos. Compositora, criadora de um alfabeto, poeta, filósofa, naturalista, autora teatral, pregadora, abadessa, médica, teóloga, ela foi muitas coisas e é difícil enumerar. Agora, a vida dessa monja beneditina alemã chegou aos cinemas alemães pelas mãos da diretora Margarethe von Trotta com Barbara Sukowa no papel de Hildegard. O nome do filme é Vision – From the Life of Hildegard von Bingen. O filme acabou de sair nos EUA em DVD, espero que chegue por aqui. Só que se Agora até agora não apareceu no cinema e Papisa Joana não deu as caras em DVD, pode ser que nunca chegue. O que é uma pena. Já é possível montar um curso de Mulheres, Cinema e Idade Média sem nenhuma dificuldade... Basta os filmes saírem aqui.

22/08/2010

Agressão à Mulher – Os novos covardes


Ótima matéria do Correio Braziliense sobre violência contra as mulheres e os preconceitos dos profissionais ligados ao atendimento das vítimas. Clique no Infográfico e leia algumas das falas que estão na tese de doutorado da Prof.ª Marilda de Oliveira Lemos. Falando nisso, a casa abrigo para as mulheres vítimas de violência de Brasília foi despejada, porque o GDF não pagou o aluguel. É o (des)governo abandonando as mulheres vítimas da violência doméstica e possibilitando que elas sejam alvo de novas agressões por parte de maridos e companheiros, principalmente. Segue a matéria, ela era somente para assinantes.

Agressão à Mulher – Os novos covardes

Nas últimas décadas, elas foram estimuladas a denunciar a violência e abandonaram a postura de silêncio. Mas hoje, mesmo com todas as conquistas, enfrentam a visão machista e preconceituosa de quem deveria prestar todo o apoio

Renata Mariz

De Ângela Diniz, morta em 1976 com um tiro pelo ex-companheiro, ao possível assassinato de Eliza Samudio, do qual o maior suspeito é o ex-amante Bruno Fernandes de Souza, que jogava no Flamengo, muita coisa mudou. As mulheres saíram das amarras machistas, conquistaram bons espaços no mundo profissional, ganharam autonomia sobre o próprio corpo e deixaram de silenciar as agressões sofridas no lar. Com quatro anos de existência, a Lei Maria da Penha contribuiu para esse comportamento mais ativo. Mas vencer as resistências referentes ao novo papel na sociedade do chamado sexo frágil ainda é um desafio. Nem os agentes policiais que geralmente são os primeiros a terem contato com as vítimas da violência doméstica escapam da visão preconceituosa.

Essa foi a conclusão de uma pesquisa apresentada na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP). O objetivo da autora, a assistente social Marilda de Oliveira Lemos, era conhecer as representações sociais de gênero entre agentes policiais de delegacias de defesa da mulher e de distritos policiais. Com base nas entrevistas com seis delegados e seis escrivães, todos de serviços localizados em Santo André (SP), Marilda constatou uma mentalidade extremamente machista. “Alguns, não apenas nas entrelinhas, mas explicitamente, sustentam a subordinação da mulher ao homem. Essa visão, transformada em prática profissional, poderá fazer a diferença no momento de interpretar e aplicar a Lei Maria da Penha”, diz Marilda.

Segundo a pesquisadora, um tom desqualificador da ação das mulheres e um tom conivente com os agressores foram recorrentes nas entrevistas (leia trechos abaixo). Para Ana Cláudia Pereira, consultora do Centro de Estudos Feministas e Assessoria (Cfemea), o preconceito apontado pelo estudo acadêmico é sentido na prática. “Recebemos mulheres que nos procuram pedindo ajuda porque não conseguiram fazer a denúncia. É clara essa ideia entre alguns agentes da polícia e operadores do direito de que a mulher ou provocou a agressão ou a agressão não foi tão séria assim. Muitos, aliás, ressentem-se do trabalho a mais depois da Lei Maria da Penha”, destaca Ana Cláudia. O tema da violência doméstica foi ressaltado na última semana devido aos 10 anos do assassinato de Sandra Gomide pelo jornalista Pimenta Neves, que não aceitava o fim da relação.

Vítimas da violência

Antes e depois do caso Pimenta Neves, o assassinato de mulheres chocou o país algumas vezes. Veja os crimes de maior repercussão:

Ângela Diniz

Raul Fernandes do Amaral Street, conhecido por Doca Street, matou a namorada Ângela Diniz, apelidada de Pantera de Minas, em 1976, com um tiro, por não aceitar o fim do relacionamento. Cumpriu pena por homicídio.

Eliana de Gramond

Vinte dias após o desquite formalizado, o cantor Lindomar Castilho alvejou a ex, também cantora, em um bar em São Paulo. O crime ocorreu em 1981 e Castilho pegou pena de quase 13 anos, boa parte cumprida em regime aberto.

Eloá Pimentel

Depois de manter Eloá Cristina Pimentel refém por mais de 100 horas, porque a adolescente de 15 anos terminou o namoro, Lindemberg Alves baleou a garota. O rapaz está preso desde o assassinato, em 2008. O julgamento não tem data marcada.

Eliza Samudio

Eliza Samudio desapareceu em junho. A polícia sustenta que a moça foi seqüestrada e assassinada a mando do goleiro Bruno Fernandes, que jogava no Flamengo. Eliza era amante de Bruno e exigia que ele reconhecesse a paternidade de seu filho. O jogador está preso.

Dado depõe até sexta-feira

O ator e cantor Dado Dolabella, acusado pela ex-mulher Viviane Sarahyba de agressão, será intimado pela Justiça para prestar depoimento nos próximos dias. A juíza Maria Cristina Brito Lima, da 1ª Vara da Família, na Barra, Rio de Janeiro, expediu a intimação e, agora, o artista terá cinco dias para se explicar às autoridades. Viviane entregou à juíza inúmeros documentos que comprovariam as agressões de Dado.

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05/08/2010

Direitos humanos e diplomacia nuclear devem andar juntos, diz Nobel da Paz


Para o Brasil de Lula, parece que, não é. Se bem que nenhum país tem gritado para a Arábia Saudita (onde a cidadania feminina é piada) ou para a China (2ª economia do mundo) ou Israel. Obviamente, isso não desculpa Lula, mas ajuda a compor um quadro de hipocrisia mundial que nossos jornais tendem a ignorar. É como se fosse problema somente do governo brasileiro, e deste especialmente, e não uma prática corrente. A diferença é que o Irã é inimigo dos EUA. Não pensem que eu estou relevando a execução, não é isso, ou a covardia e atraso do governo brasileiro em se posicionar, especialmente quando parece ter acesso privilegiado aos governantes do Irã, mas é preciso pontuar essas questões também. Espero que ainda seja possível reverter a questão. O artigo veio do site da Folha de São Paulo.

Direitos humanos e diplomacia nuclear devem andar juntos, diz Nobel da Paz

SHIRIN EBADI, ativista de direitos humanos e primeira mulher muçulmana a receber o Nobel da Paz, analisa as relações entre Brasil e Irã.

O angustiante caso de Sakineh Mohammadi Ashtiani, mãe de dois filhos que um tribunal iraniano sentenciou à morte por apedrejamento em um caso de adultério, atraiu merecida atenção mundial ao draconiano código penal do Irã, que reserva suas mais cruéis punições às mulheres. A prática do apedrejamento, especialmente, é tão repulsiva que até mesmo aliados políticos como o Brasil se sentiram compelidos a agir.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ofereceu asilo a Ashtiani, no final de semana, por meio de um apelo direto ao presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad. O Irã ainda não respondeu formalmente, e um líder estrangeiro não tem influência direta sobre um processo judicial interno. Mas a intervenção brasileira envia uma mensagem poderosa à República islâmica: seu histórico de direitos humanos não poderá ser separado de sua diplomacia nuclear.

Antes da Revolução Islâmica de 1979, nos anos em que eu trabalhava como juíza no Irã, relações sexuais consensuais entre adultos não constavam do código penal. A revolução impôs uma versão da lei islâmica extraordinariamente rigorosa até mesmo pelos padrões dos países muçulmanos, tornando o sexo extraconjugal crime passível de punição legal. Sob o código penal revolucionário, a punição para homem ou mulher solteiros que pratiquem sexo extraconjugal passou a ser de cem chibatadas; e o artigo 86 dispõe que uma pessoa casada culpada de adultério seja morta por apedrejamento.

À primeira vista, o apedrejamento não é punição aplicada de acordo com o sexo da pessoa envolvida, pois a lei estipula que homens adúlteros enfrentem o mesmo fim brutal. Mas porque a lei iraniana permite a poligamia, na prática oferece aos homens uma rota de fuga: eles podem alegar que sua relação adúltera constituía na verdade um casamento temporário (a lei iraniana reconhece 'casamentos' de apenas algumas horas de duração, entre homens e mulheres solteiras). Os homens em geral aproveitam essa cláusula de escape, e são raramente sentenciados à morte por apedrejamento. Mas as mulheres casadas acusadas de adultério não têm direito a essa exceção.

Mesmo desconsiderada a barbárie do apedrejamento, os códigos leais do Irã estão repletos de incoerências e indefinições que tornam impossível respeitar os princípios do direito. O código aponta que se um homem ou mulher tiver negado o acesso sexual a seu cônjuge devido a viagens ou outras formas prolongadas de separação, cem chibatadas bastam como punição por adultério, mas a duração dessa separação aceitável não é definida.

O apedrejamento também pode ser comutado a por uma sentença de punição com chibatadas nos casos em que uma mulher casada faça sexo com um menor de idade (a lei iraniana define a idade de maturidade sexual como nove anos para as meninas e 15 para os meninos). Em termos reais, isso significa que uma mulher casada que cometa adultério com um homem de 40 anos de idade deve ser sentenciada à morte por apedrejamento, mas caso cometa o mesmo ato com um menino de 15 anos --ou seja, explore sexualmente um menor de idade--, tem o direito a uma sentença mais branda.

O processo criminal por adultério e a promulgação da sentença de morte por apedrejamento não requerem nem mesmo que exista um queixoso pessoal; se for possível provar que um homem ou mulher cometeu adultério, mesmo que o cônjuge o perdoe, o transgressor deve ser executado por apedrejamento. O artigo 105 permite que um juiz sentencie uma adúltera com base apenas na queixa de seu marido.

Esses lapsos gritantes são apenas os mais visíveis dos motivos por que o Irã precise reconsiderar sua prática de uma punição tão antiquada que a maioria dos países islâmicos há muito descartaram em seu esforço de harmonizar o islamismo às normas modernas.

O apedrejamento vem sendo criticado há muito por diversos juristas islâmicos, mais notavelmente o aiatolá Yousef Saanei. Esses juristas acreditam que uma punição dessa ordem era aplicada nos dias iniciais do advento do islamismo, no século 7º, no deserto da Arábia Saudita, de acordo com os costumes então vigentes. Apontam que o Corão não menciona apedrejamento e acreditam que punições mais amenas, como multas ou prisão, podem ser consideradas.

Advogados, ativistas dos direitos humanos e juristas condenam a prática do apedrejamento desde que esta foi adotada no sistema de Justiça criminal da República Islâmica. Infelizmente, a República Islâmica do Irã se manteve indiferente aos seus protestos. Talvez agora, diante das críticas de um poderoso aliado como o Brasil, Teerã se veja forçada a considerar se sua adesão a esse tipo de prática de fato serve aos interesses nacionais.

Para evitar os protestos internacionais que os casos de apedrejamento em geral suscitam, o governo se abstém de anunciar publicamente os veredictos de execução por apedrejamento. É apenas lentamente, por meio de informações passadas de boca em boca por familiares e advogados, que os casos chegam ao conhecimento da mídia. Por isso, nem mesmo sabemos exatamente quantos iranianos receberam essa punição nas três últimas décadas.

Há 18 meses, a mídia iraniana reportou que um homem havia sido executado por apedrejamento na cidade de Qazvin. E agora, uma mulher chamada Sakineh Ashtiani enfrenta a possibilidade de um destino semelhante. Além disso, há outras pessoas que podem estar na mesma situação sem que ninguém saiba.


Tradução de PAULO MIGLIACCI

14/07/2010

Não as obriguem a sofrer


Vamos ver se, caso eleita, Dilma vai manter uma postura coerente com o que já disse sobre a questão, pois se for Serra, ele não vai fazer nada. Já a Marina, não sei, mas não acredito que ela tenha chances. Não permitir a interrupção de gravidez em caso de anencefalia é de uma crueldade e falta de respeito difíceis de imaginar. Especialmente quando quem legisla em sua maioria nunca poderá engravidar, mas vocês sabem que se os homens engravidassem, haveria postos de aborto na mesma proporção que postos de gasolina, ainda mais para casos como esses. Segue o artigo da secretária de Políticas para as Mulheres saiu na Folha de São Paulo.


Não as obriguem a sofrer


NILCÉA FREIRE

Sofrimento. Essa é a palavra que resume o sentimento de mulheres gestantes de fetos anencéfalos (com má-formação cerebral). Além da dor imposta pelo diagnóstico, elas enfrentam uma verdadeira saga nos tribunais ao terem de negociar sua angústia com promotores e juízes em busca de conquistar o direito legal para interromper a gravidez. Infelizmente, no Brasil, a autorização para a antecipação de partos de fetos anencéfalos é feita caso a caso e envolve crenças e valores dos juízes. No último dia 17, mais um tribunal autorizou a interrupção da gestação de um feto anencéfalo.

Apesar de negada em primeira instância, a decisão da 13ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça de Minas Gerais foi unânime. O relator, desembargador Alberto Henrique, enfatizou que a continuação da gravidez "tornou-se um sacrifício para a mãe". Essa liminar funda-se em três preceitos básicos da Constituição Federal de 1988: o respeito à dignidade humana; o direito à liberdade e à autodeterminação; e o direito a uma vida saudável.

Estima-se que, no país, 2.000 mulheres grávidas de fetos anencéfalos já interromperam a gestação por meio de alvarás judiciais. Na maioria, são mulheres pobres e usuárias dos serviços públicos de saúde, em que a exigência da autorização judicial é condição para o procedimento.

Dados da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia apontam que mais de 97% dessas mulheres estão expostas a riscos de saúde. É uma violência obrigar uma mulher a manter por nove meses a gravidez de um feto que nascerá morto ou morrerá instantes após o parto. Também é desumano submetê-la a uma gestação de risco. Nessa situação, é inegável a atitude autoritária do Estado, que força mulheres a se manterem grávidas contra sua vontade.

Portanto, é fundamental deixar claro que as mulheres não necessitam de tutela para tomar decisão; elas necessitam de informação e apoio para fazer suas escolhas. Nesse processo, é importante que elas sejam vistas como sujeitos de direito e respeitadas como tal. Diante desse contexto, urge que o Supremo Tribunal Federal coloque na pauta de seu pleno a questão. As quatro audiências públicas realizadas ao longo de 2009, que contaram com a participação de representantes governamentais, entidades da sociedade civil e especialistas da área forneceram elementos fundamentais à decisão dos ministros, incluindo toda sorte de contraditórios.

É preciso que haja uma decisão definitiva sobre o caso para que gestantes não sejam submetidas a uma verdadeira via-crúcis. Estudos mostram que a maioria das mulheres grávidas de fetos anencéfalos prefere antecipar o parto. Pesquisa feita em 2008 pelo Ibope mostra que 72% das mulheres católicas entrevistadas são a favor de que grávidas de fetos anencéfalos tenham o direito de optar entre interromper a gestação ou mantê-la.

Uma alteração na legislação vigente não significará a obrigatoriedade da interrupção da gravidez de fetos anencéfalos, mas a facultará e reconhecerá que o direito à não violência é inalienável. É fundamental, nesses casos, que as mulheres possam decidir se desejam ou não levar adiante a gestação, e o Estado deve garantir todos os recursos necessários para dar suporte às suas escolhas.

NILCÉA FREIRE, 57, médica, é ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres.
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br

Deputados aprovam veto ao véu integral na França



Legal é tentarem transformar a nova lei em "violência contra as mulheres". Essa turma que defende o niqab, vestimenta islâmica feminina (*sempre as mulheres tendo que mostrar ou esconder seus corpos, sempre as mulheres como “objeto” do olhar masculino*) que só permite que os olhos fiquem à mostra (*algumas mulheres “radicalizam” e usam até luvas e meias pretas com ele*), não está preocupado em absoluto com as mulheres, e está, na verdade, ajudando a erodir os direitos de cidadania que foram duramente conquistados em países ocidentais. E a chamada da matéria ajuda nisso, ao usar o termo véu genericamente. É o niqab que está sendo proibido, não o véu em um sentido amplo, ainda que eu seja plenamente a favor de todas as restrições que os franceses vêm fazendo há anos contra seu uso em escolas. Deveriam, sim, fazer campanha para que este tipo de véu fosse banido dentro das comunidades, e não fazer coro com esses líderes islâmicos – todos homens, claro – radicais ou os omissos. Junto com o véu, vem a infibulação, vem os casamentos arranjados, vem a poligamia, vem o direito do marido de usar castigos físicos contra suas esposas, vem mulheres que pleiteiam cidadania francesa e nem sequer sabem que podem votar. Se deixarem, daqui a pouco fazem como em certas regiões da Inglaterra, na qual se criam tribunais islâmicos para legislar sobre questões "pequenas" tipo divórcio, guarda de filhos, pensão, e herança para as mulheres. Mas quem se preocupa com o direito das mulheres? Ainda que o governo francês esteja usando uma cortina de fumaça para encobrir outras discussões, eu apoio a medida. Agora falta o senado deles aprovar.

Para terminar, antes de passar a matéria da Folha de São Paulo, comento o que ouvi de uma professora francesa que deu uma palestra para minha turma de mestrado na UFRJ em 1998. Um colega, que hoje é professor da Universidade Federal de Sergipe, perguntou como ficava a questão do multiculturalismo na França. A professora, que não se apresentou como feminista, disse que não ficava, porque o Estado francês não tolerava esse tipo de construção. Daí, ela comentou do caso do véu – ou seja, ele estava em evidência antes do 11 de setembro, e antes de virar bandeira de identidade islâmica – dizendo que participou de uma comissão que entrevistou meninas muçulmanas em escolas públicas francesas. Segundo ela, a maioria absoluta suplicou para que não permitissem que elas usassem o véu no colégio. Motivo? Porque se pudessem usar na escola seus pais e irmãos as obrigariam a usar em todo lugar. Guardei isso para mim. Depois do 11 de setembro, essa afirmação e identidade virou febre, e essas meninas (e mulheres), as muçulmanas que não querem usar nenhum tipo de véu, não aparecem mais na imprensa. Cria-se uma falsa homogeneidade, como se todo mundo concordasse. Aliás, é semrpe fundamental usar as mulheres para erodir os direitos das mulheres. Pergunto a quem isso é conveniente? Às mulheres duvido que seja.


Deputados aprovam veto a véu islâmico na França

Caso seja promulgado, projeto proibirá mulheres de usar nicab ou burca Texto impõe multa às mulheres que andarem de véu em público e até prisão a homens que as obrigarem a fazê-lo

ANA CAROLINA DANI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS


A Assembléia Nacional francesa aprovou ontem o polêmico projeto de lei que prevê a proibição do uso do véu islâmico integral nas ruas e em outros locais públicos na França. O texto foi aprovado com 335 votos a favor e um contra. A bancada do Partido Socialista e os ecologistas decidiram se abster, embora 20 deputados da esquerda tenham votado a favor.

O projeto proíbe o uso tanto do nicab, que deixa descobertos apenas os olhos, como da burca, que cobre o rosto inteiro, com uma tela quadriculada na altura dos olhos. Mulheres muçulmanas que usarem esses véus terão que pagar multas de 150, o equivalente a R$ 335. Já quem obrigar a mulher a cobrir o rosto pode pegar um ano de prisão e pagar multa de 30 mil, ou R$ 67 mil.

Partidos de oposição, organizações islâmicas e ONGs ligadas aos direitos humanos temem que o projeto acabe marginalizando ainda mais os muçulmanos na França. O deputado François de Rugy, do grupo ecologista, disse à Folha que a proibição vai estigmatizar as mulheres que usam o véu. Ele também denunciou uma "manobra do governo para tentar desviar a atenção da população dos assuntos que são realmente importantes".

Já a deputada Bérengère Poletti, do partido governista UMP, sustentou que o uso do véu não é um preceito religioso e afirmou que a burca e o nicab "ferem os princípios da República francesa". Grandes organizações islâmicas da França dizem que o véu integral não é prescrição do islã, mas defendem a liberdade de expressão. Relatório de uma comissão parlamentar concluiu que a prática é seguida por 1.900 mulheres no país. O Conselho francês do Culto Muçulmano confirma que a prática é minoritária.

A nova lei só entrará em vigor após apreciação pelo Senado, prevista para setembro. Se não houver mudança, o projeto irá para o Conselho Constitucional francês e poderá ser promulgado antes do final do ano. Em março, o Conselho francês do Estado havia emitido parecer desfavorável à proibição.

28/04/2010

Comercial com modelo GG censurado nos EUA



Eu vi a notícia por acaso em um jornal da Rede TV. O coercial da Lane Bryant com uma modelo GG ou G, sei lá, simplesmente ela não é anoréxica, é bonita e parece feliz dentro dos moldes vendidos pelas modelos em geral. Pois bem, nem a Fox, nem a ABC quiseram exibir o comercial e se utilizaram de várias desculpas, inclusive que ele seria inadequado. A empresa e grupos militantes acusam ambas de desejarem impôr um modelo de beleza, pautado, claro, na magreza extrema. Se comerciais da Victoria Secret são exibidos, porque não o da Lane Bryant? Pensem bem, se mulheres começarem a se sentirem satisfeitas com seu manequim 46-48, bonitas, atraentes e sexies, como serão vendidas as lipos, as dietas milagrosas, os antidepressivos, as quinquilharias diet-light, etc. para você entrar naquele manequim 34-36? Imagina quanta gente terá prejuízo? Dá para entender o motivo desse comercial de lingerie ser indecente?

17/04/2010

Abaixo Assinado - Abertura de Arquivos Ditadura


A OAB-RJ iniciou uma campanha pela abertura dos arquivos da Ditadura Militar. Infelizmente, acho que boa parte deles jpa deve ter sido destruída. São vídeos curtos, contundentes, usando atores e atrizes de sucesso que participam da campanha sem cobrar cachê. Encontrei seis vídeos ao todo. Coloquei três aqui e outros três no meu blog Historiativa.

03/04/2010

Mulher-bomba que atacou metrô russo tinha 17 anos



Esta é, supostamente, uma das mulheres bomba (*ou meninas, com 34 anos, quem tem 17 é menina para mim e se o cara morreu em 2009, era mais menina ainda*) do metrô de Moscou. Não sei quem pensou como eu, mas tire o niqab ou o chador que a mocinha usa e coloque-a de top e shortinho. A pose, a vulgaridade no rosto (o ângulo do olhar, o biquinho), é a mesma das nossas adolescentes dos morros cariocas ou que colocam fotinhos sexies nos orkuts da vida, orgulhosas com suas armas na mão a agarradas ao pescoço de um traficante, quase 20 anos mais velho. A mesma! Nada daquela pose rígida das mulheres palestinas ou iranianas em manifestações, parece mais a arrogância inconseqüente das adolescentes daqui, daquelas meninas e meninos que nada tem a perder e que não objetivam nada, também.

O homem não tem nada que o identifique como mulçumano, afinal, ele não precisa se cobrir ou despir para ser "apreciado", para ter seu valor (*ou falta de valor*) valorizada socialmente, ele poderia ser deslocado sem que precisasse mexer em nenhuma de suas características. Não sei qual a relação que essas figuras mantém com o Islã, mas eles e elas me parecem muito mais assustadores do que os homens e mulheres bomba aparentemente politizados de antes. A única coisa que não muda? Elas podem morrer pela causa, só morrer. Caso a causa seja vitoriosa, não terão nenhum direito a mais e, talvez, muitos a menos, assim como na Arábia Saudita, que serve para muitos deles de modelo. Tempos tenebrosos...

E não estou dizendo que os russos tratam de forma decente as populações da Chechênia ou outros núcleos muçulmanos do país, porque não tratam mesmo, mas esses movimentos não têm minha simpatia. Aliás, alvos militares podem ser considerados legítimos em uma guerra de guerrilha (*guerrilheiro ou terrorista está nos olhos de quem vê*), mas escolas, metrôs e teatros não são. E isso vale para qualquer lado. Segue a matéria da Folha de São Paulo.

Mulher-bomba que atacou metrô russo tinha 17 anos

Nascida no Daguestão, jovem era "viúva" de rebelde morto pelas tropas federais Rebelde da Tchetchênia reivindicou autoria do pior ataque terrorista ocorrido em Moscou em seis anos; mortos já chegaram a 40

Uma russa de apenas 17 anos foi identificada ontem pelo Comitê Nacional

Antiterrorismo como uma das duas mulheres-bomba que atacaram as estações de metrô de Moscou Lubianka e Parque Kulturi na segunda-feira, naquele que foi o pior ato terrorista ocorrido na capital do país em seis anos. Nas fotografias obtidas pela investigação, Dzhennet Abdurakhmanova, que também usava o nome Abdullayeva, aparece com cabelos e pescoço cobertos por um lenço preto tradicional, exibindo armas e granadas abraçada a Umalat Magomedov, 30, líder de um grupo rebelde islâmico do Daguestão, república do norte do Cáucaso onde a garota nasceu.

Segundo informações do jornal "Kommersant", o rapaz estava noivo da adolescente e foi morto em operação militar de 31 de dezembro último, o que fez dela uma "viúva negra", como são conhecidas mulheres ligadas a insurgentes mortos. O diário diz também que a segunda suicida era uma tchetchena de 20 anos, viúva de um insurgente morto em 2009 em ação para desmantelar um plano de matar o presidente tchetcheno.

O norte do Cáucaso russo é palco de insurgências violentas desde 1991. Em 1999, quando separatistas tchetchenos ganharam força com base em valores nacionalistas, houve uma forte ofensiva liderada por Vladimir Putin, o atual premiê. O Kremlin chegou a dizer que o separatismo havia sido derrotado apenas para, agora, vê-lo reorganizado sob a identidade islâmica. Os insurgentes reivindicam hoje um Estado submetido à sharia (lei islâmica). O Kremlin afirma que os grupos têm apoio, inclusive financeiro, da rede terrorista Al Qaeda.

Há dois dias, o líder rebelde tchetcheno Doku Umarov, que se diz "emir do Cáucaso" e lutou contra o Exército russo na Tchetchênia, confessou em vídeo publicado na internet a autoria dos atentados ao metrô de Moscou, que deixaram 40 mortos. No mesmo dia, outro ataque de dois homens-bomba matou dez no Daguestão.

Com agências internacionais

02/04/2010

Livro resgata fotos e documentos e revela a real participação feminina nas guerras



Na verdade, se somente na II Guerra, mas não deixa de ser muito importante. Gostaria que foss de uma historiadora, ainda assim, quando for até a Livraria Cultura, devo comprar este livro. A matéria veio da Revista Isto é.

Mulheres no front

Livro resgata fotos e documentos e revela a real participação feminina nas guerras
Natália Rangel

Um numeroso e pouco conhecido exército de guerrilheiras, oficiais, pilotos e atiradoras de elite, todas fortemente engajadas – e armadas – nas batalhas deflagradas pela Segunda Guerra Mundial, é agora retratado em textos e raras imagens no livro “Mulheres na Guerra” (Larousse), do historiador francês Claude Quétel. Ele escreveu sua obra a partir de estudos sobre o assunto que vêm sendo produzidos desde a década de 1970 (a publicação inclui uma rica bibliografia) e lança um novo olhar sobre a participação das mulheres no conflito.

Sua tese é de que a historiografia moderna relega a atuação feminina a um segundo plano e seu objetivo é mostrar que ela esteve presente em todas as dimensões da guerra. Quétel recupera a biografia de importantes personalidades desse período cujas trajetórias foram esquecidas ou nunca documentadas: “As mulheres veem a sua história dissolvida na história dos homens.” Numa das fotos incluídas nesse livro estão duas militares fazendo tricô diante de seus furgões blindados do Exército francês – emblemática da habilidade feminina de se desdobrar das agulhas às armas. O tricô das oficiais do século XX não tem nada do romantismo da mitológica Penélope, que tece enquanto espera o futuro marido chegar de suas homéricas batalhas. Elas tricotam no front e estão a postos no conflito de Garigliano, na Itália.


Entre os personagens destacados no livro está a belga Odette de Blignières, jovem de uma família aristocrática que trabalhou como manequim da Maison Chanel antes de entrar para um grupo internacional de resistência à ocupação alemã. Em 1942, ela contribuiu com transporte e munição para que soldados aliados fugissem pelos Pirineus e alcançassem Londres viajando pela Espanha. Também militou no movimento antifascista italiano ao lado de outras mulheres. Conhecida como a “ciclista que detonava explosivos”, a química francesa Jeanne Bohec foi escalada para trabalhar na confecção de armas de sabotagem. Além de fabricá-las, ela as utilizava para detonar ferrovias e cumpria sua missão in loco de bicicleta. Em 1944, ela estava no grupo que resistiu a um ataque alemão em Saint- Marcel. Jeanne sobreviveu e recebeu honrarias militares ao final da guerra. Outra francesa, Georgette Gérard, entrou para o grupo de Resistência de Lyon e atuou no movimento Combat. Em 1943, ela era a capitã de um grupo de cinco mil guerrilheiros divididos em 120 acampamentos localizados em florestas. Para “inspirar confiança”, se fazia passar por um oficial e se autodenominava “comandante Gérard”. Poucos subordinados sabiam que se tratava de uma mulher.

Em Berlim, uma extraordinária manifestação de caráter antinazista foi protagonizada por mulheres. E deu certo. O protesto de Rosenstrasse envolveu centenas de alemãs casadas com judeus, que reivindicavam a libertação de seus maridos. Após uma semana de intensos motins, Joseph Goebbels libertou cinco mil berlinenses de origem judaica. “O ódio político das mulheres é extremamente perigoso”, teria dito Adolf Hitler. Na União Soviética, onde o alistamento militar feminino já ocorria desde 1925, eram muitas as soldados e atiradoras que assumiam a linha de frente do Exército soviético. Uma delas foi Luba Makarova, atiradora de elite, que ilustra a capa do livro. Ela participou da conquista de Berlim, ao final da guerra, como capitã de um Exército formado por homens. Uma outra jovem soviética, integrante da Juventude Comunista, militou contra a invasão alemã a Moscou. Ativista de um grupo guerrilheiro, Zoia Kosmodemianskaia, 18 anos, organizava sabotagens às tropas alemãs e foi presa após colocar fogo em estábulos do inimigo.

Cruelmente torturada, ela foi enforcada e teve seu corpo exposto publicamente. Um repórter do jornal “Pravda” a fotografou e a imagem de Zoia e sua história a transformaram em “heroína da União Soviética”. Segundo Quétel, o fato serviu de motivação para o Exército Vermelho, que foi insuflado pelo slogan “patriótico”: “Matem o monstro nazista.” Além de narrar as histórias com leveza e sempre incluir um detalhe pessoal ou curioso no perfil de suas personagens, o autor também envereda por temas mais prosaicos. Conta, por exemplo, como a guerra determinou a moda do uso de turbantes e reproduz um relato da filósofa e escritora francesa Simone de Beauvoir, famosa adepta do adereço. Ela explica que as frequentes panes de eletricidade inviabilizaram o uso do penteado permanente (o mise-en-plis), e a crise de abastecimento fez desaparecerem os chapéus das lojas. Para não sair de “cabelos ao vento”, que era de mau gosto na época, adotaram-se turbantes. “Apeguei-me a eles definitivamente”, escreve Simone.

23/02/2010

Palmas para Meryl Streep!



Vi essa entrevista na Época e tinha que postar, afinal, Meryl Streep é a grande dama do cinema americano, uma das atrizes que mostram competência e consegue se manter no alto mesmo com todo o sexismo do cinema que mede o talento das atrizes pela sua idade. Na entrevista ela mostra senso crítico, engajamento político e fala do que as mulheres conquistaram e perderam nas últimas décadas. Claro, que perguntas melhores renderiam bem mais, no entanto, o resultado ficou muito bom. Segue a entrevista.



ÉPOCA – A senhora detém o título de intérprete com mais indicações para o Oscar de todos os tempos: 16. Uma marca difícil de ser batida. Mas a última vez que a senhora venceu foi em 1983, por A escolha de Sofia. Não é frustrante perder sempre?
Meryl Streep – Não. Porque eu já nem penso mais em ganhar. Vou à cerimônia do Oscar para me divertir, encontrar amigos e para apoiar os diretores com quem trabalhei. Já estou muito feliz de ter esse histórico todo com o Oscar.

ÉPOCA – Muitas atrizes têm a carreira da senhora como modelo. O que acha dessa reverência toda?
Meryl – Isso me faz sentir ótima. E me faz mesmo. Sei quanto as atrizes que me precederam significaram para mim. Lembro de chegar a Nova York, vindo da escola de arte dramática (na Universidade Yale) e ter a chance de ver Geraldine Page, Irene Worth e Colleen Dewhurst no teatro. Que maravilha! Elas significaram o mundo para mim, talvez até mais do que as estrelas de cinema. Jamais pensava que iria fazer filmes. Meu sonho era ser uma atriz de teatro.

ÉPOCA – A senhora já disse que não existem bons papéis para atrizes acima dos 40 anos. Agora que continua por cima, tendo faturado mais de US$ 1 bilhão com seus filmes, ainda pensa da mesma maneira?
Meryl – Quando dei aquela declaração havia poucos papéis para atrizes maduras. E os bons papéis para atrizes acima dos 40 continuam escassos. Tive a sorte de fisgar todos os bons papéis que estavam disponíveis para essa faixa etária (risos). Mas vejo uma melhora. Hollywood funciona a partir do retorno da bilheteria. O que importa para os estúdios é o dinheiro arrecadado. Quando uma parcela ignorada do público responde com entusiasmo a um tipo de filme, aí prestam atenção. Toda vez que encontro chefões de estúdio dou um puxão de orelhas neles. Faço-os ver que ignoram uma parcela do público, o das mulheres maduras. Faço lobby para que eles invistam mais em filmes como Rio congelado, no qual a atriz Melissa Leo faz uma grande interpretação. Ninguém viu o filme, pois o dinheiro para o marketing era pouco e a distribuição acanhada. Mas rendeu indicações para o Oscar de atriz e roteirista. É um dos melhores que já vi.

ÉPOCA – A senhora poderia imaginar 15 anos atrás que atingiria o status de uma sexagenária que arrasta multidões ao cinema?
Meryl – Jamais. Também jamais suspeitaria que, de nossas três grandes emissoras de TV, duas delas hoje teriam mulheres ancorando seus noticiários no horário nobre. Jamais poderia imaginar que teríamos uma mulher como secretária de Estado. Ou que teríamos um presidente negro. É muito bom ver mulheres no poder na América do Sul e na Europa. Mas, ao mesmo tempo, também temos de enfrentar certos retrocessos.

ÉPOCA – Tais como?
Meryl – Como no Afeganistão. Nos anos 50, as mulheres afegãs formavam 70% do contingente de servidores públicos. A maioria dos professores era de mulheres. As afegãs votaram muito antes numa eleição do que as americanas.

ÉPOCA – O que a senhora acha do desempenho de Hilary Clinton como secretária de Estado?
Meryl – Ela está fazendo um trabalho de 20 mulheres ao mesmo tempo. Quando você olha a agenda dela no ano passado, dá para detectar a dimensão do trabalho que ela fez. E Hillary está tentando fazer o melhor que pode.

ÉPOCA – Em uma cena de Simplesmente complicado, a senhora aparece fumando maconha. Já fumou maconha alguma vez?
Meryl – Sim, já fumei maconha. Mas não gostei. Fumar maconha me fez sentir gorda e paranoica. Fiquei faminta depois. Assaltei a geladeira como se não houvesse amanhã.

ÉPOCA – O que a senhora acha da obsessão das atrizes de Hollywood pela cirurgia plástica?
Meryl – Me assusta que muita gente considere você maluca se não deu uma repaginada no rosto. Plástica hoje é como dente amarelo no passado. Todo mundo passou a ter dentes melhores e, se você não os têm, todo mundo diz: “Por que não os arrumou ainda?’’ Hoje em dia, quando alguém olha para você e diz: “Puxa, sua aparência está fantástica”, isso significa que a pessoa está realmente querendo dizer: “Bem-vinda ao clube, querida” (risos).

ÉPOCA – Qual é o segredo de sua forma invejável?
Meryl – Como muitas mulheres, gasto uma boa grana com cremes (risos). Eles ajudam muito. Recomendo. Dormir pelo menos sete horas por noite também é bom.

ÉPOCA – Muita gente famosa estremece ao conhecê-la pessoalmente. E com a senhora também rola uma tietagem?
Meryl – Mas é claro! Recentemente, conheci o presidente Barack Obama e fiquei totalmente paralisada (risos). Com o (cantor) Bruce Springsteen foi a mesma coisa.

12/02/2010

Barbie vira engenheira da computação e apresentadora de TV



Barbie já foi astronauta, presidente dos EUA, bailarina, princesa, paraquedista e caixa do McDonald's. Agora, por votação popular ela será apresentadora de TV e engenheira da computação. Estas serão, segundo notícia do G1, a 125ª e 126ª profissão da boneca mais famosa do mundo. Quem ajudou a desenhar a boneca engenheira foi uma associação de mulheres engenheiras dos Estados Unidos. Sei que a Barbie é vista como um símbolo de assujeitamento aos ditames da moda e de outros papéis de gênero que merecem ser criticados, mas a boneca também tem essa faceta profissional que é marcada pelo slogan "tudo que você quer ser". O que uma menina quer/pode ser? A boneca, que é adulta, pode, sim ter função pedagógica. Basta saber usá-la.

03/02/2010

Misoginia no Twitter



Não sei quem tem Twitter. Eu tenho e passo mais tempo por lá do que no Orkut. Esses dias, o assunto principal é o BBB, porque uma das concorrentes – eliminada ontem – era twitteira profissional. Não assisto, mas a gente acaba acompanhando notícias por tabela. Pois bem, a tal moça teria dito em um dado momento que fez sexo dentro da casa. No final de semana, o tal vídeo “vazou” (se, sei...), a partir daí, a antipatia pela moça atingiu níveis absurdos, ela já tinha forte rejeição antes.

Eu cheguei a deixar de seguir pessoas que ficavam re-postando as sandices ofensivas. A moça era chamada de “piranha”, “boqueteira”, “chpália”, “Tessaranha”, “puta” e toda uma série de adjetivos pejorativos. Exceções, que eu re-postei, foram “A Tessália está solteira e faz sexo e é taxada de puta. Michel tem namorada e a sacaneia e é "o cara"?? Fala sério. Inversão de valores!” e “Esse negócio da Tessália é quase um Uniban 2. Todo mundo chamando ela de puta, mas ela não estava ali sozinha, estava?”. De resto eram ofensas, que lembraram, sim, o caso UNIBAN. Já o rapaz foi poupado ou "felicitado" pelo presente recebido.

Aliás, parece ser tudo parte do mesmo fenômeno, mulheres jovens e sexualmente atraentes (*aliás, mulheres devem ser assim, não é?*) são linchadas moralmente, porque fazem exatamente o que se espera que elas façam, ou porque fazem sexo. É o backlash total. O resultado do linchamento da tal Tessália foi que o top 10 dos trending topics brasileiros foram xingamentos à moça e acho que um deles conseguiu ser o terceiro trending topic do Twitter inteiro. “Orgulho nacional”, alguns gritaram.

Na verdade se provou mais uma vez a capacidade dos brasileiros e brasileiras se mobilizarem por causas inúteis, a hipocrisia que campeia entre nós e, claro, o machismo que está impregnado até a alma. E não se trata de simpatia pela moça em si, mas da percepção de que este tipo de coisa é prejudicial a todas as mulheres. Nós feministas precisamos ficar de olho, porque esse tipo de violência de gênero é virtual e real, e se nos calarmos tende a crescer e se tornar generalizada. E não se omita, pois a próxima pode ser você.

01/02/2010

Fazendo Gênero 9 - Inscrições Abertas!



O Fazendo Gênero é um evento importante que acontece a cada dois anos na Universidade Federal de Santa Catarina. Ele reúne pesquisador@s de todas as áreas e as inscrições de trabalhos estão abertas até 28 de fevereiro. O evento acontecerá este ano entre 23 e 26 de agosto. Para fazer as inscrições, é só clicar aqui. Para maiores informações, clique no cartaz do post.

11/01/2010

A volta do cor-de-rosa e a domesticação do corpo das meninas



Uma amiga me mostrou este artigo da Prof.a Mirian Goldenberg sobre o império do cor-de-rosa na vida das meninas. Não sei quem observa, mas me sinto nauseada com os sentidos embutidos na imposição desse mundo monocromático às meninas. Elas são princesas, elas tem que estar arrumadinhas, devem ser vistas e admiradas, e elas todas vestem rosa. E isso não é natural. Quem compra as primeiras roupinhas? Quem entope essas meninas de artigos cor-de-rosa? O que significa pois ser menina nesse mundo de uma cor só? E os meninos, por que têm quase todo o arco-íris para si? Menos o rosa, talvez...

Quando eu era criança tinha pouquíssima coisa cor-de-rosa. Minha mãe amava vermelho, minha cor favorita era azul, a do meu irmão era amarelo. As pessoas pensavam que o que era meu era dele e vice-versa. Hoje, em um ajuntamento de menininhas, praticamente todas estarão de rosa. É monótono e opressivo. E o problema não é gostar de rosa, hoje eu gosto de rosa, mas é essa cultura de domesticidade que a cor está evocando e reforçando. Mas leiam o texto, ele é muito melhor do que a minha falação.

A volta do cor-de-rosa

Mirian Goldenberg *, Jornal do Brasil

RIO - Aos domingos, gosto de caminhar na orla das praias de Ipanema e Leblon observando os corpos dos cariocas. O que estes corpos falam sobre uma cultura em que o corpo é um verdadeiro capital?

Com essa ideia na cabeça, e um papel e uma caneta na mão, tento decifrar que tipo de cultura está representada nos corpos observados. Nestas caminhadas antropológicas, o que mais me chama a atenção é a monocromia que reina nas roupas e acessórios das meninas. Quase todas estão de cor-de-rosa, da cabeça aos pés. O rosa não é apenas a cor das Barbies (cujo site tem como slogan Viva o rosa!) mas também dos vestidinhos, camisetinhas, bermudinhas, calcinhas, biquininhos, bolsinhas, sapatinhos, meinhas, enfeitinhos, lacinhos, pulseirinhas etc. Além do rosa, chama a atenção o excesso do uso do diminutivo das mães quando falam com e de suas filhas.

Comentando, tempos atrás, este fenômeno monocromático com a minha editora Ana Paula Costa, ela, muito empolgada, sugeriu que eu escrevesse um livro com o título: A volta do cor-de-rosa. A ideia seria a de retratar o fenômeno de uma nova geração de meninas extremamente românticas, melosas e açucaradas. Meninas cor-de-rosa. Chegamos à conclusão de que o rosa representa um modelo feminino que parecia ter sido completamente abolido nos anos 70 pelas mulheres que desejavam ser meio Leila Diniz: livres, fortes, poderosas, sexualmente ativas, donas do próprio corpo.

Nas minhas caminhadas percebo que, enquanto as meninas estão de rosa da cabeça aos pés, os meninos vestem roupas azuis, verdes, amarelas, vermelhas, cinzas, marrons, pretas, roxas, laranjas, lilás, brancas etc e até, algumas vezes, rosas. E eles não são apenas mais livres nas cores que usam mas, também, correm, brincam, gritam, jogam, se sujam e se machucam muito mais do que elas.

A comparação entre as cores e as brincadeiras de meninos e meninas sugere que faltará a elas, quando mulheres, algo fundamental: liberdade. Liberdade que, na minha pesquisa com indivíduos das camadas médias cariocas, elas afirmam invejar nos homens. Enquanto eles dizem que não invejam nada nas mulheres.

Quando brincam de casinha com suas Barbies cor-de-rosa, as meninas estão aprendendo a ser um tipo de mulher que, provavelmente, terá o mesmo tipo de sonho em um futuro não tão distante. Elas estão aprendendo a ser românticas, dependentes, delicadas, preocupadas com a aparência, mulheres que gastarão inúmeras horas em salão de beleza pintando as unhas do pé e da mão de rosa, comprando roupas e sapatos, cremes e maquiagens, obcecadas com dietas para emagrecer, com cirurgias plásticas, botox, e que, apesar de adultas, continuarão tendo fantasias com o príncipe encantado, que pagará as contas e resolverá todos os problemas.

Muitos pesquisadores já analisaram esta nova/velha mulher que, cansada do mundo competitivo do trabalho e das responsabilidades sociais, sonha em “voltar para a casa e se dedicar ao marido e aos filhos”. Sonho cada vez mais difícil de realizar e, talvez por isso mesmo, cada vez mais presente entre as brasileiras, uma espécie de nostalgia de um tempo perdido em que o papel feminino estava restrito ao de esposa e mãe.

Recentemente, descobri o blog PinkStinks (Rosa é uma droga), em que duas mães inglesas declararam guerra ao que chamam de pinkification (rosificação) das meninas: a onipresença da cor rosa no universo feminino. Elas acreditam, como eu, que o fenômeno vai muito além da cor. O site diz que a cultura do rosa, imposta às meninas desde o berço, é baseada no culto da beleza, no corpo, na aparência, na magreza, em detrimento da inteligência. Apesar de parecer inofensiva, continua, o rosa simboliza uma cultura de celebridade, fama e riqueza, obcecada pela imagem, que pode aprisionar e limitar as aspirações das meninas sobre o que podem ser e realizar quando se tornarem mulheres.

Se o corpo e a roupa falam algo sobre a nossa cultura, o que o rosa está falando sobre estas futuras mulheres? Estaria falando de um tipo de representação de gênero que associa a mulher à delicadeza, doçura, fragilidade, fraqueza, inferioridade, submissão? De mulheres cujo principal objetivo é conquistar um marido? De mulheres dependentes que precisam da proteção de homens fortes e poderosos? Estaria falando da clássica dominação masculina, que transforma meninas em mulheres cor-de-rosa?

* Mirian Goldenberg é antropóloga, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro e autora de 'Toda mulher é meio Leila Diniz' (Ed. BestBolso). 17:20 - 09/01/2010